terça-feira, maio 22, 2012, posted by # 7 at 15:30





A noite continuava agradável. Como que uma imitação ou cópia daquela em que tudo me foi retirado.
Só que agora, era a minha vez de retirar.

O animal ali estava, estendido a meus pés, indefeso. Toda a sua brutalidade, violência e poder de intimidação nadas significavam agora. Era apenas um monte de carne flácida, à minha mercê.
Hora de obter a minha recompensa.

Creio que desde aquela noite, sempre soube que este momento iria chegar. E precisamente por isso, tudo o que era necessário encontrava-se no interior da minha viatura, aguardando pela hora da sua utilização.

Sempre gostei de conduzir à noite, especialmente em noites tão agradáveis quanto esta.
A viagem até ao bosque foi rápida. Mas, se por um lado estava a saborear a viagem, por outro, anseava a hora de de concretizar a minha vingança.

Retirei a besta de dentro da mala do carro e amarrei-o a uma árvore.
Curiosamente, algumas nuvens começaram a cobrir o céu, fazendo com que os reflexos da lua as tornassem como que saídas de um filme de terror. Extremamente apropriado.

Esperei que ele acordasse, sempre olhando para aquela face horrível, aguardando por fitar aqueles olhos.
Quando acordou, estava confuso e, após alguns momentos de desorientação, notou a minha presença e desde logo começou a ameaçar-me: "Vou-te matar, cabrão. Vou-te enfiar num buraco e nunca mais ninguém vai saber de ti.".
Aquela arrogância não tinha limites. Mesmo numa situação de inferioridade, apelava à violência, à prepotência.

Aproximei-me lentamente, cheguei a minha boca aos seus ouvidos e disse-lhe: "Já me mataste há algum tempo, naquela praia abandonada. Só estou a retribuir o favor.".

A expressão de rufia passou para um olhar de espanto.
"Tu és aquele gajo? Mas não tinhas batido as botas?".

"Aparentemente as minhas botas não chegaram a bater. Mas, seguindo esse raciocínio, creio que as tuas se preparam para um choque brutal.".


"Não tens tomates para isso, tótó. Se pensas que me assustas, caga lá nisso. E nem penses que me endrominas com conversas de bófias. Nunca vou dizer nada nem confessar nada."


Claramente, aquele traste estava equivocado quanto às minhas intenções.
Apesar de me sentir desde logo tentado a responder-lhe, ponderei momentaneamente e resolvi antes agir.


Antes de começar, coloquei-lhe um lenço na boca, pois apesar de estarmos bem afastados de tudo e de todos, nunca se sabe se poderá haver uma alma errante pelos bosques.


O serrote foi o primeiro utensílio. Mais uma vez, a expressão no olhar daquele triste espécimen mudou drasticamente. De furioso para assustado.
Não me detive muito tempo a fazê-lo sentir-se ameaçado. 
Comecei pelo pé esquerdo, serrando vagarosamente, sentindo a lâmina penetrar na carne, enquanto o vilão se contorcia com dores e tentava, em vão, gritar.
Chegando ao osso comecei a ter mais dificuldades, mas a lâmina era boa e, com alguma persistência, consegui o efeito desejado.


Ele já estava com o corpo totalmente rígido, de tanta força que fazia devido às dores. 
Segurei o pé amputado e coloquei-o a alguns metros dele, mas bem visível, para que pudesse realmente perceber o que estava a acontecer.


Mas nem tudo foi mau para este assassino, violador. 
Administrei-lhe morfina em quantidade suficiente para que as dores pudessem ser menores.
Afinal, de que me valeria se ele desmaiasse e perdesse o espetáculo? Que tipo de entertainer seria eu?


Quando senti que já estava melhor, cauterizei-lhe o ferimento. Nova onda de dor. 
Claramente, ele tentava dizer-me algo, talvez pedir que parasse, pedir por misericórdia.
Mas isso não estava nos planos. Parar, só no final. E a viagem ainda agora havia começado.


Dediquei-me então à mão direita. Fazer as coisas em cruz, tal como se aperta a roda de um carro, para que fique bem posicionada.


Quando ambas as mão e pés já não faziam parte do seu corpo, o sangue parecia irradiar uma brilhante luz, iluminando os bosques negros com intensidade.
Resolvi desamarrá-lo. Com a quantidade de droga que tinha dentro do seu corpo, certamente não teria forças para sequer tentar a fuga.


Passei então às lâminas. Aquele brilho maligno nos seus olhos, aquele brilho que durante tantas noites me manteve acordado, não poderia estar escondido. E ele parecia defender-se do que se passava, fechando os olhos.
Cortei-lhe as pálpebras, com gentileza, para não danificar a visão, claro.
Depois passei para o nariz, para as orelhas e, por último, a língua.


A língua foi complicada, pois ele não queria colaborar. Mas, com mais ou menos dificuldades, com mais ou menos corte, acabei por conseguir o pretendido.


Tempo para uma pausa.
Desde aquela noite que ganhei um novo e nefasto vício: o tabaco.
Sentei-me a cerca de 2 metros dele, ou do que restava dele. Acendi um cigarro e fumei-o calmamente.


Nitidamente, apesar de toda a morfina, as dores haviam se apoderado dele. Contorcia-se, tanto quanto podia, claro, emitia estranhos sons, fazendo com que o sangue jorrasse daquele orifício que antes se chamava de boca.


Terminando o cigarro, passei às agulhas. Uma longa agulha consegue causar uma boa dose de dor. Um ataque aos nervos, por assim dizer.


Senti que o fim estava próximo, mas ainda queria fazer algumas experiências, antes que o último sopro de vida abandonasse aquele corpo.


Resolvi então tentar algo que havia visto num qualquer filme de terror, na minha juventude. Arrancar um olho com uma colher.
Não foi tão fácil quanto no filme, mas, por outro lado, eu tinha que retirar o glóbulo ocular sem danificar demasiadamente o nervo. Queria que ele fosse ainda capaz de ter alguma visão.
E consegui. Aquele olho pendurado era quase hilariante, digno de um palhaço de circo.


O que estava à minha frente já não era aquela besta intimidante, aquele gorila violento que conseguia obter tudo o que queria através do sofrimento dos outros.
Desta vez, ele era o sofrimento. Ele era a dor. Aquele torso desmembrado, desfigurado, repleto de sangue e vísceras, não transmitia mais que repugnância.


Era tempo de terminar. 
Segurei-lhe o olho e apontei-o para mim. Não sei se ele conseguia ou não ver-me, se consegui ou não ouvir-me, mas sussurrei baixinho: "Acabou a tua viagem. Vemo-nos no Inferno.".
Com uma lâmina bem afiada, abri-lhe a garganta. Mais sangue começou a jorrar e ele começou a guinchar, fazendo lembrar um porco quando está a ser morto. Bem, ponderando sobre o assunto, ele era um porco.


Durou pouco mais de 1 ou 2 minutos, até que o que restava daquele traste de ser-humano desfalecesse por completo. 


Voltei a sentar-me, a acender outro cigarro.
"Tenho que deixar isto.", pensei.


Terminado o cigarro, foi tempo de tratar da cabeça.
Estava cansado e não me apetecia voltar a serrar. Resolvi utilizar o machado. Mais violento, mas mais rápido.


Cabeça tratada. Segurei-a pelos cabelos e fitei mais uma vez aqueles negros olhos. O brilho havia desaparecido.


Mais uma vez, tal como naquela noite na praia, tudo havia terminado para mim.


Nessa noite, finalmente dormi.
 
segunda-feira, maio 21, 2012, posted by # 7 at 23:05





"Estupidamente deliciosa.". As palavras não me saíam da cabeça.
Por mais que as tentasse afastar, estavam sempre presentes, unidas com aquela rouquidão e com aquele brilho maligno de um olhar animal.

A noite cotinuava agradável, serena...
Eu estava sentado no passeio, à porta do bar, quando ouvi passos pesados, cada vez mais perto.

"Olha o gajo. É o panasca que 'tava lá dentro. Paneleirão, deve estar à espera do namorado. Ah ah ah.".

A arrogância continuava presente. Ao passar por mim, o animal tocou-me, empurrando-me com os joelhos.
Mantive o meu olhar no chão.

O animal fazia-se acompanhar por dois capangas. 
Continuaram a andar e, penso eu que a tentar encurtar caminho para o destino pretendido, entraram por um beco escuro, situado mesmo ao lado do bar.

Conveniente.
Apesar de todo eu estar a sentir a emergente vontade de apelar ao puro instinto, sabia bem que a espera acaba sempre por compensar.

Segui-os pelo beco. A determinado ponto do seu trajecto, um dos acompanhantes tomou direcção diferente dos outros dois.
Senti-me tentado em segui-lo, mas mantive-me focado no meu objectivo, no meu destino.

Os metros foram passando até que, eventualmente, a minha presença foi notada. E o que se passou a seguir foi surpreendente, mesmo para mim.

O amigo do animal caminhou determinado para mim e, sem realmente pensar, dei por mim a retirar-lhe a faca que tinha nas mão, apenas para a devolver, enterrada na sua carne, abaixo das costas, na zona dos rins.
Rodei a lâmina por diversas vezes, senti a carne a rasgar e ouvi os gemidos de dor. Senti prazer, euforia, adrenalina.
Não demorou até que caísse a meus pés, tentando desesperadamente arrastar-se para algum local onde pensasse poder obter ajuda. Mas o seu destino estava escrito. A sua jornada terminaria ali, pelas minhas mãos.
A minha primeira morte, algo que me deveria ter chocado ou marcado, mas que, curiosamente, não me causou qualquer transtorno.

O animal estava estupefacto, olhando para mim, com um misto de surpresa e ódio nos seus olhos. Aquele brilho não enganava. Era ele, a besta que terminou com a minha antiga vida.

Dirigiu-se a mim, rapidamente e furiosamente. Normalmente, eu teria tido uma reacção similar, violenta, instintiva. Mas não, estranhamente, mantive-me frio e, simplesmente, agredi-o com força e precisão, o necessário para o imobilizar.

A noite estava agradável, nem quente nem fria, graças à brisa que se fazia sentir.
Mas naquele escuro beco, ninguém passava, não havia vida para além da nossa.

E ali, naquele escuro beco, agora repleto de sangue e violência, uma nova e diferente história iria começar.
 
domingo, maio 20, 2012, posted by # 7 at 22:39

"Estupidamente deliciosa."

Abro os olhos e estou só. A noite está como estava naquele dia, agradável, nem quente nem fria. 
Ainda assim estou a suar com tanta intensidade, que pareço acabado de sair do banho.
Aquela voz continua a assombrar-me, noite após noite. Aqueles olhos de brilho negro continuam a procurar-me, a fazer-me sentir toda a dor que senti naquela praia.

E eu continuo a sofrer, noite e dia, pela minha perda. E principalmente por tudo ter caído no esquecimento, num imenso vazio de incompetência e desdém.
Ninguém quis verdadeiramente saber do que aconteceu, ninguém se dedicou verdadeiramente a tentar descobrir o que esteve por trás de tamanha brutalidade, aplicada a mim e, principalmente, a ela.

Na verdade, nem eu mesmo me esforcei o suficiente. E é por isso que me sinto a desvanecer, que me sinto um traste.
Entrego-me a tudo o que me possa fazer afastar o pensamento daquele dia, quando na verdade deveria fazer o contrário.
Mas sou fraco, não consigo.

Noite após noite, aquela voz rouca me acorda e me leva de volta ao local onde tudo aconteceu. 


É tarde. Estou num dos bares a que me acostumei a ir, afogando-me em álcool, na esperança de que desmaie rápido e tudo desapareça. Mesmo que momentaneamente.
Porém, algo me despertou do meu estado catatónico. Algo com mais força que um coice de um cavalo, que um choque de alta tensão. Uma voz rouca, uma voz terrivelmente familiar.
"Meu amigo, esta cerveja está estupidamente deliciosa. Ah ah ah.".
Creio ter mudado bruscamente de cor, pois tive a nítida sensação de que o meu sangue parou de circular por momentos.
Olhei para o lado e o terror ocupou-me a alma. Aqueles olhos, aqueles olhos negros de brilho maquiavélico...estavam ali, ao meu lado.


Não demorou para que ele notasse os meus olhos nos seus. "Há azar, companheiro? Temos pena mas não dou para esse lado, ó panasca. Por isso desolha, se não queres chatices.".


Tive que me recompor, não deixar que os sentimentos iniciais tomassem conta das minhas atitudes.
Voltei a olhar em frente, bebi o que restava da minha bebida e preparei-me para sair.
Antes, olhei em frente, para o espelho do bar. E vi que uma lágrima escorria pelo meu rosto. Limpei-me e saí. Ali não era o meu lugar.
 
sexta-feira, maio 18, 2012, posted by # 7 at 00:13

A noite estava extremamente agradável, uma noite de Verão, suavemente arrefecida por uma calma brisa que se fazia sentir.

Estávamos apenas os dois, sentados na areia, a ouvir o reboliço do oceano. Sós naquela enorme praia que mais parecia um deserto negro.

Não precisávamos de falar, pois entre nós não existiam silêncios desconfortáveis. Aliás, preferíamos os silêncios de cumplicidade a conversas fúteis desprovidas de qualquer significado.

Estávamos perfeitamente sintonizados.

Até que nos apercebemos de que o deserto negro ão estava assim tão deserto. Sem que percebesse bem de onde veio, senti uma forte pancada na cabeça e tudo em meu redor se tornou estranho e distante. Como que se tivesse sudo abraçado por uma névoa alucinogénica que toldava o mundo, o discernimento, os movimentos. 

Ouvi os gritos dela, que rapidamente foram abafados por uma luva negra. Ouvi também uma voz masculina, mas não consegui entender o que dizia, não consegui entender nada. Nada, a não ser que ela precisava de ajuda, precisava de mim. Mas o meu corpo simplesmente não respondia à minha mente. E assim fiquei, inerte, quase sem reacção.

Fechei os olhos, pelo que me pareceu apenas um breve momento. Mas na realidade, não sei se foi por dois segundos, se por duas horas.

Senti a minha cabeça a elevar-se e vislumbrei o brilho dos olhos que me fitavam. Não eram os dela. Eram escuros, carregados de violência.

Já não se ouviam gritos nem gemidos. Apenas o mar a castigar o areal com as suas sucessivas investidas.
"Estupidamente deliciosa.", sussurrou-me uma voz rouca ao ouvido. Um bafo fétido saiu da boca que proferiu tais palavras, repugnante mesmo.

De novo senti a cabeça a tombar por terra e de novo fechei os olhos. Só que desta vez, claramente por muito tempo.

Mais uma vez, o suave e calmante som das ondas fez-se ouvir. Com ele, o calor dos raios do Sol matinal, suficientemente fortes para me fazerem abrir os olhos.
Sentei-me na areia, olhei para o lado e senti o terror a invadir todos os meus poros, todo o meu ser, inundando a minha alma de angústia. Ela estava a meu lado, com as vestes estralhaçadas, o rosto marcado e inchado, claramente sujeito a uma violência desmedida. Os seus olhos estavam bem abertos, mas já não existia vida neles, o seu brilho havia desaparecido.

Por mais que a abraçasse e a tentasse aquecer com o meu corpo, por mais que chamasse o seu nome vezes e vezes sem conta, no meu íntimo, soube desde o primeiro olhar que a havia perdido para sempre. E ela era tudo o que eu tinha na vida. Ela era a minha vida.

Aquele deserto que tinha passado de negro a luminoso, era agora o palco do maior desgosto jamais sentido por um ser-humano. O que há algumas horas parecia ser um sonho, era agora o pior dos pesadelos.

A vida fugiu-me por entre as mãos, tal como os finos grãos da areia desta praia fariam, caso os segurasse.


Tudo terminou para mim.
 
quarta-feira, maio 16, 2012, posted by # 7 at 20:24

Continuando na linha do último post, temos agora a outra mudança cá de casa.
E como dá para ver pela foto em cima, trata-se da inauguração de uma nova baliza. Sim, baliza. Eu tinha dito que era uma janela, mas a princesa disse logo: "Não, não. É uma baliza.". E assim ficou. 
Só que, num primeiro momento, era uma baliza de futsal (só faltava um dente). Em menos de nada, passou de futsal para baliza de futebol de 11 (caiu o vizinho do lado). E agora temos este look desdentadito.

A fada dos dentes não se pode afastar muito desta casa, pois isto parece estar a pegar moda e já está um outro dentito a abanar.
 
, posted by # 7 at 20:18

Finalmente o pequeno deixou-se convencer a cortar o cabelo, numa cabeleireira, ao invés de cortar apenas as pontas na casa da vizinha da frente.

A verdade é que gosto muito de ver o rapazolas de cabelo comprido. Dá aquele toque de surfista. 
Mas com o calor, até dá pena de o ver todo transpiradito. Já é difícil quanto baste tratar do cabelo comprido da princesa.
E diga-se a verdade, o pequeno até fica bem de cabelo curtinho.

As pessoas quando o viram ficaram surpreendidas, até porque já foi há muito tempo que ele teve o cabelo curto. E muita gente disse: "Olha o Emanuel em ponto pequeno. Tal e qual o pai, com o cabelo assim.".
Ora, vamos lá a ver uma coisa, isso é um bocadito relativo. Quem me dera a mim ser tão bonito quanto o menino. Aí sim, seria um grande elogio compararem-nos.
Agora, a verdade é que a minha carantonha não tem nada a ver com a do rapazito.
Quanto muito, o cabelo, mas pronto, o pessoal encaixa as comparações como um elogio.

Agora é deixar passar o tempo até o reguila voltar a ficar gadelhudo. É que acho que ele tem mais chances com as babes, de cabelo grande.
 
terça-feira, maio 15, 2012, posted by # 7 at 22:23

Shame on me!!!

Passou-se o mês de Janeiro (já agora, também Fevereiro, Março, Abril e já estamos a meio de Maio) e não fiz sequer uma mínima referência ao aniversário do blog.

Em Janeiro andava ainda com a cabeça a mil, a pensar em treinos e tempos para a maratona de Sevilha, mas ainda assim deveria ter algum tempinho livre para um pequeno reparo.

É verdade, sou uma tristeza. Esquecer-me do aniversário deste meu confidente silencioso.

Com tudo isto, já se passaram 5 anos desde que aqui postei, pela primeira vez. 5. 
E lembro-me bem de criar este espaço, dos tempos que vivia nessa altura. E sinto saudades. Muitas.

Anyway, parabéns para o meu pequeno espaço, aquele espaço meu, que mesmo que ninguém o leia, servirá sempre como forma de depositar alguns dos meus pensamentos. Não todos, mas alguns. 
 
sexta-feira, maio 11, 2012, posted by # 7 at 22:56

 
quinta-feira, maio 10, 2012, posted by # 7 at 22:01

Parece-me que numa altura destas do campeonato, já deveria estar perfeitamente consciente em relação às estranhas voltas que a vida dá, ao facto de, na verdade, todos estarmos sozinhos no meio desta chafurdice.

Mas, aparentemente, apesar de todo o meu pessimismo, devo ter uma pequena réstia de positivismo em mim, já que de cada vez que as contrariedades incessantes da vida se cruzam no meu caminho, me deixo abater mais um pouco.

Começo a concordar perfeitamente com aquele velho ditado: "preso por ter cão ou preso por não ter.".
Ou seja, se fores uma pessoa sem determinação, maleável e excessivamente adaptável ao que te rodeia, podes muito bem ser acusado de fraco caractér, de não teres a força suficiente para teres opinião própria.

Por outro lado, se fores fiel às tuas convicções, firme na tua forma de pensar e agir, podes contar com dedos apontados, adjectivarem-te de teimoso, de incapaz de entender outros pontos de vista.

Resumindo, a verdade é que o mundo conspira por estar contra nós.
Ou melhor, as pessoas querem e gostam de estar umas contra as outras.
Até aqui, tudo bem. Nada de novo. Aliás, é por isso que esta bola de estrume a que chamamos Terra está no caminho que está.
O pior é quando as pessoas que estão contra ti são aquelas que pensavas serem as tuas aliadas, a tua segurança, o teu ponto de refúgio.
Aí, o chão foge-te debaixo dos pés e apercebes-te de que estás só, abandonado e incompreendido.

Mas a verdade é que não estás só. Infelizmente, tens uma imensa companhia, já que cada vez são mais os que se apercebem de que quem os deveria apoiar, simplesmente não o faz.
 
sexta-feira, maio 04, 2012, posted by # 7 at 00:04

Querido diário, tenho uma pergunta para a qual ninguém parece ter resposta: O que há de errado comigo?

Apesar de fingir ser uma pessoa normal, tudo dentro de mim me diz que não passo de uma farsa, que tento constantemente criar uma ilusão de vida normal, com dilemas banais e que aceito tudo isto sem qualquer contestação.

A verdade é que sinto constantemente uma tristeza por tentar com tanta força que a minha vida seja de um modo que verdadeiramente não desejo.

Apesar de me sentir tentado a assumir alguma irreverência, a deixar que todos saibam o que penso, sem receios de opiniões divergentes, a verdade é que sinto sempre o receio de ser considerado um deslocado, uma pessoa controversa. Ou seja, quero ser uma coisa mas tenho receio de o ser.

Quero ir contra o que os outros pensam que devo fazer, mas preocupo-me com o facto de poder ser inconveniente.
Bem, toda esta baboseira para quê? Para nada. Para encher linhas deste post.

Começemos, então: Querido diário, hoje foi mais um dia. Ou terá sido menos um? 

Acordei cedo, levei os miúdos à escola, vim para casa, saí para correr. Tomei banho, voltei a sair para a fisioterapia. Regressei. Fiz umas coisas no pc e, hora do almoço. Umas compras, uns toques na bateria e eis que chega a hora de ir buscar os meninos. Isto porque, devido a estar de baixa médica, ainda não estou a trabalhar. Caso contrário o dia seria bem menos produtivo a nível de vida, embora bem mais a nível de contribuição laboral.

Miúdos em casa, brincadeiras, hora dos banhos, jantar. 
Mais um pouco de convívio e eis que chega a hora de deitar os mais pequenos.

E pronto, assim se passou um dia.

Querido diário, lendo estas linhas até me sinto tentado a afirmar que tenho uma vida completa e repleta de tudo o que é bom.

Mas, querido diário, porque raio não consigo acreditar verdadeiramente nisso? Porque raio continuo a sentir que me falta algo, que há tanto que ando a deixar para trás?
Pois, querido diário, não sei explicá-lo coerentemente. Apenas sei que este vazio continua aqui.

Querido diário, mais uma vez, o que raio é que está errado comigo?
 
terça-feira, maio 01, 2012, posted by # 7 at 23:18

Como inúmeras ocorrências banais da vida, a sua própria existência baseava-se em contradições, diferentes estados de espírito e muitas dúvidas.

Se durante o aborrecido passar das horas, parecia uma pessoa normal, com um emprego normal, uma família normal, uma vida normal, a verdade é que bem dentro de si, tudo era confuso e longe de ser nítido.

As distrações do dia a dia, o formigueiro em que vivia, permitiam que os seus pensamentos divagassem para longe do que realmente constituia o seu "eu", a sua essência. E assim, a existência, apesar de penosa, tornava-se suportável.

O pior era mesmo à noite, à hora em que o seu corpo implorava por descanso e nada mais restava que atirar com a sua própria carcaça para cima daquele velho colchão, na esperança de conseguir algum descanso. Aí, existiam duas e apenas duas opções: Ou simplesmente tentava aguentar o máximo tempo possível acordado, até que realmente não desse para mais, ou afogava-se em alcóol, esperando que o efeito fosse o mesmo, mas de forma mais rápida e eficaz. 
E tudo isto constituia naturalmente um enorme transtorno para ele, quanto mais não fosse pelo facto de ser um defensor acérrimo da prática desportiva e de uma vida levada de forma saudável.

Mas, por outro lado, os fantasmas costumam ser mais fortes do que qualquer convicção. E este era o caso.
Se recolhesse ao seu local de descanso "limpo", por mais cansado que estivesse, dificilmente conseguiria dormir uma noite descansada. Os inúmeros "ses" que assombravam a sua vida, simplesmente inundavam a sua mente e mantinham-no acordado por longas horas, por vezes, durante toda a noite. "E se eu conseguisse aquilo?", "Se eu tivesse mais estudos.", "Se eu fosse melhor pessoa.". Todas as questões inerentes a uma vida de constantes dúvidas existenciais pairavam sobre a sua cabeça, continuamente, incessantemente.

Por outro lado, se abraçasse o mundo da fantasia, originado pela ingestão de substâncias alcoólicas e, por vezes, de outras origens, as suas noites eram simplesmente imensos buracos negros, onde nada se passava, onde tudo era simplesmente escuridão, vazio.

Tal situação fazia com que as suas manhãs fossem, também elas, diferentes, consoante o estado de espírito em que se encontrava na noite anterior. Ou despertava livre de maus pensamentos, mas a sentir-se terrivelmente mal fisicamente, ou se levantava fisicamente bem, mas com a mente destroçada.

E isto durou, durou e durou um pouco mais. E, como qualquer balão que lentamente vê o ar a enchê-lo lentamente, sem nunca parar, um dia a explosão será e foi inevitável.

Um dia, sem que nada o fizesse prever, comprou uma arma e decidiu terminar com toda e qualquer ligação que tivesse neste mundo. Isso incluía família e amigos, claro. Esposa, filhos, amigos chegados, pais, avós.......

Tudo preparado, um último olhar diante do espelho, para observar o monstro uma última vez e.......tudo mudou. Dúvidas, questões, arrependimentos...e a questão surgiu: "Se sou eu que tenho os problemas, porquê fazer sofrer quem nada tem a ver com isso?".

Um click, uma explosão de pólvora, ossos estralhaçados, carne queimada, sangue nas paredes, problema resolvido.
E a partir daí todas as noites foram serenas e pacíficas, sem problemas a assombrar a sua mente.
 
Emanuel Simoes

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