segunda-feira, maio 21, 2012, posted by # 7 at 23:05





"Estupidamente deliciosa.". As palavras não me saíam da cabeça.
Por mais que as tentasse afastar, estavam sempre presentes, unidas com aquela rouquidão e com aquele brilho maligno de um olhar animal.

A noite cotinuava agradável, serena...
Eu estava sentado no passeio, à porta do bar, quando ouvi passos pesados, cada vez mais perto.

"Olha o gajo. É o panasca que 'tava lá dentro. Paneleirão, deve estar à espera do namorado. Ah ah ah.".

A arrogância continuava presente. Ao passar por mim, o animal tocou-me, empurrando-me com os joelhos.
Mantive o meu olhar no chão.

O animal fazia-se acompanhar por dois capangas. 
Continuaram a andar e, penso eu que a tentar encurtar caminho para o destino pretendido, entraram por um beco escuro, situado mesmo ao lado do bar.

Conveniente.
Apesar de todo eu estar a sentir a emergente vontade de apelar ao puro instinto, sabia bem que a espera acaba sempre por compensar.

Segui-os pelo beco. A determinado ponto do seu trajecto, um dos acompanhantes tomou direcção diferente dos outros dois.
Senti-me tentado em segui-lo, mas mantive-me focado no meu objectivo, no meu destino.

Os metros foram passando até que, eventualmente, a minha presença foi notada. E o que se passou a seguir foi surpreendente, mesmo para mim.

O amigo do animal caminhou determinado para mim e, sem realmente pensar, dei por mim a retirar-lhe a faca que tinha nas mão, apenas para a devolver, enterrada na sua carne, abaixo das costas, na zona dos rins.
Rodei a lâmina por diversas vezes, senti a carne a rasgar e ouvi os gemidos de dor. Senti prazer, euforia, adrenalina.
Não demorou até que caísse a meus pés, tentando desesperadamente arrastar-se para algum local onde pensasse poder obter ajuda. Mas o seu destino estava escrito. A sua jornada terminaria ali, pelas minhas mãos.
A minha primeira morte, algo que me deveria ter chocado ou marcado, mas que, curiosamente, não me causou qualquer transtorno.

O animal estava estupefacto, olhando para mim, com um misto de surpresa e ódio nos seus olhos. Aquele brilho não enganava. Era ele, a besta que terminou com a minha antiga vida.

Dirigiu-se a mim, rapidamente e furiosamente. Normalmente, eu teria tido uma reacção similar, violenta, instintiva. Mas não, estranhamente, mantive-me frio e, simplesmente, agredi-o com força e precisão, o necessário para o imobilizar.

A noite estava agradável, nem quente nem fria, graças à brisa que se fazia sentir.
Mas naquele escuro beco, ninguém passava, não havia vida para além da nossa.

E ali, naquele escuro beco, agora repleto de sangue e violência, uma nova e diferente história iria começar.
 
Emanuel Simoes

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