sexta-feira, março 30, 2012, posted by # 7 at 18:58

Era uma 5ª-Feira como tantas outras, em que fui fazer um treino de btt pela manhã, começando por Palmela e indo por ali a fora, em direção à Serra de Arrábida. Eu e o meu companheiro de desporto, Zorro.
Passados poucos km, aconteceu logo o primeiro imprevisto. Rebentei o pneu da frente. Um belo rasgo, diga-se.
Lá tive eu que estar a trocar a câmara de ar, a encher o pneu com a minha minúscula bomba de ar, mas enfim, apesar do rasgão, decidimos continuar.
Pedalámos mais uns km, sempre por locais bem conhecidos por nós, até que o inesperado aconteceu: numa descida cheia de gravilha, não consegui completar uma curva e, em vez de me atirar para o chão, optei por seguir por uma outra estrada, com a esperança de que a mesma fosse dar a algum lado conhecido.
Já diz o conhecido ditado: "Quem se mete por atalhos, mete-se em trabalhos.", e neste caso foi precisamente o que aconteceu, ainda que a minha incursão pelo o dito atalho não tenha resultado de uma ação voluntária da minha parte.
Ao que parece, o caminho em que eu entrei era o acesso a uma propriedade privada. Mas ao invés de ter um portão, ou um sinal com um aviso, existem no local dois pilares de cimento, um em cada lado do caminho e, amarrado a esses pilares, um cabo de aço que, supostamente, veda o acesso.

Resultado, quando vi o cabo ia a 38,7 km/h e já não deu para travar. Bati no cabo, a bicicleta ficou e eu voei. E voei de forma tão rápida que nem tive tempo de colocar as mão à frente, para amparar a queda. Aterrei literalmente de cabeça, partindo o capacete em vários locais.

Quando me levantei, não sabia bem onde estava. Sentia dores horríveis e de repente comecei a ouvir um enorme zumbido, até que deixei de ouvir de todo, durante alguns momentos.
Quando a audição regressou comecei a andar (pensava eu que para trás) até que o meu colega me disse que eu estava a andar na direção errada. As dores eram tantas que não conseguia segurar nada. Perdi completamente as forças e tive que andar ainda bastante tempo a pé, sempre de olhos fechados, tal eram as dores. 
Um sr. que ia a passar, também praticante de btt, teve a amabilidade de chamar uma ambulância, que não tardou a chegar ao local onde nos encontrávamos.

Foi uma viagem a não repetir. Cada movimento do veículo fazia as minhas dores aumentarem. Fiquei com os braços completamente dormentes.
Ainda na ambulância, tiveram que me dar oxigénio, pois comecei a ter náuseas e vómitos e a sentir-me tonto.

O acidente foi por volta das 11 da manhã. Às 12:04 estava a dar entrada no hospital de Setúbal.
Durante cerca de 12 horas, fizeram-me radiografias, um TAC, administraram-me vários medicamentos e, colocaram-me numa maca, nos corredores do hospital, à espera. Foi no dia da greve geral e tudo estava um caos.
Lá, fui informado de que os ossos da coluna tinham entrado para dentro, tal foi a pressão a que estiveram sujeitos.


Depois de muita espera, de novo para uma outra ambulância e enviado para o hospital do Barreiro. Aí, novamente testes e raios-x.
Passado algum tempo, foi-me dito que os meus m sintomas não coincidiam com os resultados dos exames. Ou seja, os testes estavam normais, mas as minhas queixas, principalmente em relação à dormência das minhas mãos, não eram normais. Resultado, tive que lá ficar ainda algum tempo, depois administraram-me mais alguns medicamentos e mandaram-me para casa, já passava das 02:00.


Apesar de estar sempre com dores e de me mexer muito mal, deu bem para entrar dentro do carro, ir à farmácia comprar os analgésicos e relaxante muscular e voltar para casa. Isso porque a dose que me deram no hospital foi forte.
Quando o efeito desses medicamentos passou, começou novo tormento. Mesmo com os medicamentos, as dores eram fortes, muito fortes. Passei várias noites sem dormir, sempre em sofrimento. Costas, braços, pescoço. Houve uma altura em que a dor era tanta que eu não sabia bem onde me doía.


3 dias depois, nova viagem ao hospital, desta vez a Lisboa. Os medicamentos não estavam a aliviar nada e a dormência continuava.
Mais uma dose de cavalo lá e nova receita para levantar, com medicamentos mais fortes.
De novo a mesma história. Quando saí de lá, até me mexia bem, tal era a potência do que me deram. Consegui, pela primeira vez desde o acidente, ter uma refeição sentado à mesa. Mas foi Sol de pouca dura. Assim que o efeito começou a desaparecer e apesar de ter tomado mais medicamentos, não consegui estar mais de pé. 


Passei várias noites no chão da minha sala e, há alguns dias, consegui passar para o sofá.


Infelizmente, já passaram 9 dias desde que caí e continuo cheio de dores e com as mãos dormentes.
Para escrever este post, tive que fazer inúmeras pausas para me deitar e descansar um pouco.
Isto implica, claro, nova ida para o hospital. A tal dormência, que deveria ter passado em 3 ou 4 dias, já dura há 9 e não me parece que vá simplesmente desaparecer.
A medicação que estou a tomar, supostamente era para ser só até hoje, mas continuo cheio de dores.


A minha vida agora resume-se ao espaço da minha sala, sem quase me mexer.


No meio de tanta coisa má, só posso tirar uma coisa positiva: se eu andasse sem capacete, de certeza que não estaria aqui a escrever. No mínimo, teria que ficar preso a uma cama para o resto da vida.
 
Emanuel Simoes

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