sábado, maio 15, 2010, posted by # 7 at 17:59
Futebol. Eu gosto de futebol. Não por sentirnecessidade de torcer por um clube ou por integrar um grupo de adeptos. Gosto do desporto porque requer uma actividade física algo intensa, tem técnica e por vezes, quando os jogadores são bons, brindam os espectadores com lindas jogadas, que envolvem um misto de instinto, perícia e agilidade. Algo bonito de se ver, incontestavelmente, mesmo para quem não é adepto da modalidade.

Mas, apesar de tudo, de todo o esforço que possa ser depositado na sua prática, o futebol é apenas um jogo. Diferente de um jogo de cartas ou de dardos, sim, mais intenso que um jogo de dominó ou xadrez, concordo, mas, ainda assim, um mero jogo. 
 
Tudo isto porque soube hoje que, na sequência dos festejos dedicados à conquista do campeonato português de futebol, por parte do Benfica, um adepto do clube foi espancado por adeptos do Braga, o outro candidato ao título, e acabou por falecer, no hospital.
Mas que mau perder é este que leva à loucura de alguém, a ponto de ceifar uma vida em nome de um clube de futebol? Que demência é esta, que impele ao selvagerismo extremo de alguém, apenas pelo simples facto do seu clube ter ficado atrás de outro? 

Mais uma vez, uma razão que surge no meu caminho e que fomenta o meu cada vez mais crescente desgosto em fazer parte deste grupo de seres a que chamam humanos. Ao invés de fazermos tudo por preservarmos a nossa existência, caímos no absurdo de nos exterminarmos por razões mesquinhas, ridículas.

Tornámo-nos tão dementes, tão irracionais, que defendemos causas absurdas, sem sentido, apenas porque achamos que são certas. Na grande maioria das vezes, se perguntarmos a alguém o que o faz ser tão fanático por tal causa, a resposta perde-se no meio da confusão de palavras banais e insignificantes.
Qualquer desculpa é válida para incitar à violência, qualquer motivo serve para levar à loucura cega.

Não conheço a vítima deste trágico acontecimento, não sei se incitou à violência ou não, mas, uma coisa sei, para ceifar a vida de alguém, são precisas razões muito mais fortes do que a divergência de opinião quanto ao gosto clubístico. 
 
, posted by # 7 at 13:00
Hoje, pela manhã, quando fui beber café, vi no jornal uma notícia que alimentou a minha tristeza em viver no seio de tão preconceituosa sociedade. Uma Professora foi afastada de suas funções pedagógicas por ter posado nua para uma conhecida revista erótica.
De notar que, nessa edição em que surgiam as imagens da senhora, nunca esteve referido, nem o seu verdadeiro nome, nem a sua profissão, muito menos o local onde vivia.

Este país, em que tantas vezes os seus dirigentes e habitantes se orgulham de dizer ser evoluído e sem preconceito, revela-se mais uma vez triste e falso. Apenas uma sombra daquilo que realmente dizem ser.
Uma mulher, em pleno Séc. XXI, decide (e é apenas a ela quem cabe decidir) despir-se de reconceitos e falsos moralismos e a recompensa é ser criticada, censurada, afastada do seu emprego.

O engraçado, extremamente engraçado, é que a edição da revista, na localidade onde leccionava, esgotou rapidamente. É uma afronta, a senhora ter ousado fazer o que fez, mas toda a gente quer ver, todos querem guardar a prova em como ela o fez.

Vivemos num triste mundo, cheio de tristes pessoas. E eu, infelizmente, vivo num ainda mais triste país, cheio de pessoas ainda mais tristes e ignorantes.
Já era tempo de ir fazendo algo por evoluir. Porque palavras são bonitas de ouvir e de dizer, mas não passam de isso mesmo.......palavras. 

A realidade é simples e desmotivante: somos ignorantes, preconceituosos, racistas, xenófobos, enfim, ridículos.

Um voto de solidariedade para a senhora que ousou rebentar com as estúpidas barreiras que a sociedade teima em impor.
 
, posted by # 7 at 00:10
Saí à rua hoje. Mesmo estando o tempo chuvoso, ventoso e desagradável, para a maioria das pessoas.

Olhei-me no espelho e constatei que sou normal.Sorri por ser normal, por parecer normal.
Senti-me normal, ao sair de casa. Beijei a rugosa face do meu velho pai, disse-lhe que não esperasse por mim e parti, em direcção ao nada, para nada encontrar.

Apesar da chuva, a temperatura no exterior era amena, agradável. Percorri ruas e ruas, sem destino definido, sem local para onde ir. Apenas procurava alguma paz de espírito.
Mas, de repente, surgiste do meio do vazio, de repente, como que um raio fulminante que queima até à morte a sua vítima.
Os teus olhos azuis fitaram os meus e, ainda que por apenas alguns segundos, senti que me diziam algo. Passaste por mim sem abrandar o passo, mas a verdade é que, nos poucos segundos em que cruzámos olhares, muito se passou.

Parei subitamente. Não por querer, mas porque me senti obrigado a tal. Olhei para trás e observei os movimentos graciosos do teu corpo, enquanto proseguias o teu caminho.
Lembrei-me de ter olhado ao espeho antes de sair de casa e de me ter sentido tão normal.
Olhaste momentaneamente para trás, fitando-me novamente nos olhos. Esse azul, tão intenso, tão poderoso. Tomaste conta de mim. Libertaste o monstro, aquele que tanto me esforcei por esconder, por trancar definitivamente.

Senti-me impelido em seguir-te e, apesar de teres companhia, fi-lo, sem receio algum.
Alguns metros passados, voltaste a olhar para mim e, ao contrário do que eu esperava, não surgiu em ti qualquer expressão de medo ou receio. Antes pelo contrário, o teu sorriso atraíu-me, fez-me sentir quente por dentro, sentir que tenho importância.

Alterei a minha rota para que coincidisse com a tua. Segui-te sem fazer nada para esconder o facto e tu olhavas constantemente para mim, sorrindo timidamente, mas nunca demonstrando medo. Isso atraíu-me, mais que tudo. O não teres medo, não me receares, foi como que um afrodisíaco. Senti-me normal, outra vez.
Continuei, pela noite dentro, caminhando atrás de ti, como que se me guiasses à salvação que tanto precisava.

Até que paraste, olhaste-me nos olhos e senti esse azul a violar a minha alma, submetendo-a à tua vontade. Perguntaste-me se queria caminhar a teu lado, em vez de te seguir. Estranhamente, com toda a minha timidez, respondi prontamente que sim, que adoraria caminhar a teu lado.

Caminhámos juntos, lado a lado, em silêncio, sem conversas banais, fúteis e, ainda assim, eu sentia-me bem e sabia que também tu não estavas constrangida com o silêncio que emanava de ambos os nossos corpos. Apenas passos e um pouco da nossa respiração.
Andámos e andámos, até que me forças-te a parar e me beijaste. Tão doce, tão suave. Senti-me no céu, flutuando por entre as nuvens brancas que me acariciavam a face, quase tão macias como as tuas mãos.

Quando dei por mim, estávamos sós, num qualquer quarto de um hotel, motel, residencial, ou qualquer outro desses locais.
Estavas linda, apenas com um lençol a cobrir o teu lindo corpo, enquanto me olhavas com esses doces olhos azuis, esse azul hipnotizador que me levou a esse local. 
Fui à casa-de-banho passar a cara por água, enquanto ouvia a tua doce voz a dizer-me para não demorar. Olhei-me no espelho. Olhei e, mais uma vez, senti-me normal. Tantas vezes que me senti normal neste dia maravilhoso. Estarei curado? Serei realmente normal? 
Não sei a resposta. Apenas sei que me juntei a ti e nos juntámos de uma forma tão intensa que parecíamos ser uma só pessoa, um só corpo, uma só alma. Soube ali que eras a minha alma gémea, pois o teu olhar era celestial, doce, intrigante, dominador, hiptnotizador. Tu eras eu e eu era tu. Senti-me tão humano, tão normal.
Tão humano e tão normal, até que o meu reflexo surgiu numa colher de sobremesa, que tínhamos utilizado para comer doces morangos. A minha imagem distorcida pelas curvas da colher fez-me lembrar de quem realmente sou. Agarrei na colher, fixei os meus olhos ondulantes, reflectidos no objecto metálico e senti o ardor dentro de mim. Senti a realidade a apoderar-se do meu ser, a voz do meu pai, ao longe, a dizer que não sou normal. 

Segurei firmemente na colher, aproximei-me de ti e disse-te: "És tudo para mim.". 
Olhaste para mim, sorrindo e acariciando-me a face. Disseste que nunca esperaste que eu fosse tão querido.
Fiz força e enterrei a colher no teu olho esquerdo, fazendo-o saltar da órbita, mas sem danificá-lo em demasia, pois esse azul não é fácil de encontrar.
O sangue jorrou, espichou, sujando lençóis, chão, paredes. Tentaste gritar mas rapidamente abafei o som que tentavas emitir com uma ponta do lençol. Apertei-te o pescoço, enquanto te retirava os olhos.

Rapidamente o silêncio se instalou, ainda que o teu corpo ainda tremesse de quando em vez. O azul dos teus olhos era meu, a tua doçura seria eterna em mim, o teu toque seria para sempre lembrado. E o espelho, o espelho mentiu-me, mais uma vez. Fazendo-me crer que era normal, iludindo-me para que pensasse ser capaz de me conter.
Seguro agora o meu mais precioso tesouro, enquanto desmembro teu corpo, com tanto respeito e carinho quanto é possível. Tenho que te tirar daqui, meu amor, sem que ninguém veja.

A noite continua amena, enquanto te arrasto para o meu local de eleição. Felizmente ninguém anda nas ruas, a esta hora.

Mantenho comigo o meu tesouro, os meus tesouros, os teus azuis olhos.

"Filho, és tu?". "Sou sim, pai, vai dormir." "E então, correu-te bem a noite?". "Sim pai, conheci uma rapariga maravilhosa." "Vais voltar a vê-la, ou é mais uma daquelas que desaparecem?". "Vou voltar a vê-la, pai. Assim como vejo todas as outras. Agora vai dormir, meu pai. Descansa."

O espelho, o espelho mentiu-me, mais uma vez. O espelho iludiu-me e deixou que saísse à rua, mesmo sendo o animal que sou. O espelho tentou esconder o monstro que sou. O espelho mentiroso.
 
sábado, maio 08, 2010, posted by # 7 at 16:41
As acções do passado perseguem-nos, atormentam-nos por vezes. Mas, se nos causam transtorno, é porque deixámos de ser a pessoa que éramos no passado. Caso contrário, caso nos mantenhamos no rumo animalesco da vida, nada sentiremos. Remorso, vergonha, arrependimento, serão só palavras.

Mas uma coisa se revela tristemete verídica: muitos de nós preferem esquecer deliberadamente (ou dizer que está esquecido) o passado, do que admitir que estavam errados. Parece ser preferível fazer o papel de esquecido, de ignorante, do que admitir que se errou e que se marcou negativamente a vida de outrém.

As atitudes do passado, tanto erros como boas acções, devem ser encaradas de peito aberto, assumindo responsabilidade e protagonismo pelas mesmas. Esconder-se por trás de uma fraca memória, em nada benificiará a nossa vivência actual.

É por isso que me sinto o coração a sangrar. É por isso que tenho o peito apertado. Por tanto ter sofrido e por nada ser agora admitido.

Custa-me constatar que o passado, que tantas vezes é tido como referência para o futuro, seja agora ignorado, deliberadamente esquecido. Custa-me aperceber-me de que tudo o que aconteceu é agora negado.

A vergonha pode ser embaraçosa. Sim, é verdade. Mas a cobardia é deveras mais repugnante.
 
, posted by # 7 at 01:36
Hoje sentei-me aqui, em frente ao computador e pensei em escrever algo. Não tinha planeado nada. Achei que seria como antes, começava a escrever e os pensamentos surgiam e fluiam, mais ou menos intensos, mas presentes.

Sentei-me sim, mas nada me ocorreu. Tentei, pensei, mas nada, apenas vazio. 
Outros dias houve em que este vazio não me preocupou, pois associei-o ao cansaço. Mas vejo-me chegado a um ponto em que o cansaço não pode ser desculpa. Falta-me algo cá dentro, a minha inspiração espontânea parece ter-me abandonado. Por muito maus que fossem os meus textos, tinha sempre algo para dizer. Mas agora, tenho medo de me tornar num vegetal, no que diz respeito à imaginação e cultura.

Nada me surge, nem bom nem mau.......nada. Sinto-me vazio, como uma televisão fora do ar, que apenas mostra pequenos pontos pretos e brancos, sem sentido algum, num estranho e aleatório movimento sem nexo.

É como me sinto, vazio.
 
Emanuel Simoes

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