sábado, novembro 28, 2009, posted by # 7 at 23:06
Tantas são as vezes em que vejo pessoas, vozes ou simples palavras a erguerem-se contra os destruidores da natureza. Principalmente falando da Amazónia, da sua eminente destruição e de como o dito "pulmão do planeta" está a ser dizimado.

Mas acho que, pelo menos nós, portugueses, deveríamos olhar um pouco para nós mesmos. A nossa Serra da Arrábida está a ser consumida e ninguém parece se preocupar com esse facto. Ah pois, a cimenteira diz que por cada árvore abatida, plantará outra. Pois é, mas falar é uma coisa, resultados, são outra.

Já me habituei, semana após semana, a passar perto das manobras da pedreira, pedalando na minha bicicleta e observando o imenso buraco que tende em aumentar, no meio da serra. Onde outrora predominavam árvores, temos agora pedra, lama, vazio. Não vejo as árvores plantadas, os efeitos benéficos que a empresa diz implementar. Apenas vislumbro o vazio, a sensação de solidão no meio da natureza, a destruição.

Admiro-me que uma cidade tão prestigiante como Setúbal permita a destruição do seu próprio património, mas, por outro lado, até entendo. Afinal de contas, o dinheiro é quem mais ordena, e se entra dinheiro a troco de umas árvores deitadas ao chão, porque não andar de Mercedes ao invés de outra qualquer marca mais fraca? Sim, mais vale vender o futuro para aproveitar o presente. Quem vem a seguir que se lixe.
 
sábado, novembro 21, 2009, posted by # 7 at 23:24
Pois é. Este artista é complicado de domar.

Realmente, tenho que dar a mão à palmatória e concordar que os meninos são bem diferentes das meninas (e não é só por terem uma pilinha).
Quando me diziam tal coisa, no tempo em que ainda não havia Gabriel, eu dizia sempre que isso era parvoíce. Os comportamentos dos filhos dependem da educação que se lhes dá.

Senão vejamos, a Beatriz, desde muito pequena, sempre foi muito certinha, no que se refere a fazer o que lhe dizíamos. Quando lhe apontei uma tomada de electricidade e lhe disse que não podia ali mexer, que fazia dói-dói, ela nem mais se interessou ou quis olhar para tal coisa. Com a lareira, a mesma situação. Objectos pequenos os facilmente quebráveis, era só dizermos para não mexer e ela logo perdia o interesse neles.

Até que um dia, chegou o Gabriel. Caixotes do lixo, tomadas, tudo o que seja susceptível de atirar ao chão ou ser quebrado, tal como espelhos, tudo é curioso, tudo terá que ser explorado.

Dizer que não? Que é mau? Que faz dói-dói? Que interessa isso? O jovem quer mexer, tem que mexer. E de preferência atirar violentamente ao chão, para testar a sua resistência ao choque.

É incrível, mas este rapazinho tem uma aptidão natural para a destruição. E ainda não anda. Quando tal situação ocorrer, certamente que terei que remodelar a disposição de certos objectos cá em casa.

Não sei se todos os meninos serão assim, mas oiço dizer que sim.
Uma coisa é certa, este rapazinho está a revelar-se um pequeno terrorista.

Pelo menos parece ter o mesmo gosto pela música que o pai. Pode ser que parta umas guitarras, Kurt Cobain style.
 
, posted by # 7 at 23:06
Hoje levantei-me cedo. Ainda estava escuro lá fora. O vento soprava forte, uivava.

Vesti-me e saí, para pedalar na serra, sozinho. Nunca o tinha feito.
A vantagem de ir tão cedo, é que não há praticamente ninguém na rua a essa hora.

Pedalei, monte acima monte abaixo, senti o frio do vento que insistia em forçar caminho, sempre só.
Foi libertador. Dá para pensar, quando estamos sós. Dá para parar e reflectir, ainda que em movimento.

Parei por diversas vezes, para tirar fotos, para olhar o mar, o céu.......
É muito bom mesmo, a sensação de estar só no meio da natureza, o ter que passar por obstáculos, a adrenalina daquela descida ou o esforço da tal subida.

É uma solidão abençoada e reconfortante.

Isto do btt tem destas vantagens. Dá-nos a possibilidade de usufruir de forma singular da natureza e das suas maravilhas.

E é por isso mesmo que me revolta, quando olho para o chão e vejo pacotes de gel energético vazios, atirados sem reflexão por parte de quem o faz, embalagens de barras energéticas que poluem os caminhos que se querem limpos de modo a que todos possam disfrutar deles. Revolta-me saber que andam por aí esses artistas, que provavelmente se gabam de serem os maiores do pedal e que no fundo, mais não são que uns ignorantes imbecis que não sabem preservar o que de bom temos.
Talvez um dia me seja concedido o privilégio de ver um desses senhores a despojar-se de um qualquer lixo e certamente que me apossarei de tal item e o perseguirei, para alertá-lo de que deixou cair algo.

Mas até lá, vou continuar a gozar do que a natureza me dá, pedalando ora acompanhado, ora sozinho. E sabe tão bem isolar-me de quando em vez.
 
terça-feira, novembro 17, 2009, posted by # 7 at 22:04
O fio metálico aperta, sufoca, deixa marca no teu tenro pescoço, na tua linda e pálida pele. Os meus próprios dedos começam a inchar devido à força que exerço, mas o prazer é demasiado. Bem superior a toda e qualquer dor ou incómodo que me possa assolar.

Não percebes? Não vês que de nada valem os pontapés que desferes, que derrubam todo o tipo de objectos enquanto circulamos pela sala, nesta linda dança macabra? Não entendes que este é um caminho de sentido único, um beco estreito com apenas um princípio e um fim e que, claramente, te encaminhas para este último?

Dancemos então. Derrubemos todo e qualquer obstáculo que se atravesse no nosso caminho. Destruamos este local em que nos encontramos, tão repleto de bens materiais e itens claramente alusivos a um sentido de posse e superioridade perante os demais.

Ouves? Ouves a música que toca só para nós? Ah, claro. Os teus próprios gemidos não te deixam ter esta maravilhosa percepção. São os anjos que tocam para nós, enquanto utilizo eu mesmo a corda de um instrumento musical para finalmente te trazer alguma paz.
Ouve bem, cala-te agora. Que belo solo de guitarra, que linda melodia. Dancemos então, aproveitemos a inspiração angelical. Somos uns privilegiados por nos ter sido concedido tal presente.

Aperto e aperto, danço e rodopio sobre mim mesmo, até que, num instante, o velho ditado que diz que a carne é fraca assume todo o seu significado literal e a corda de aço começa a desbravar caminho pelo teu doce pescoço. O sangue espicha, jorra, ruidosamente. Instintivamente coloco uma tesoura enferrujada na tua mão e sussurro-te ao ouvido; "Leva-me contigo."

O metal entra em mim, impulsionado por todos os resquícios de força que existem no teu ser. Sinto a dor, o ardor, o prazer de saber que estou vivo e a percepção da inevitabilidade da minha eminente morte.

Ainda consigo fazer com que a minha reluzente corda de guitarra cumpra a sua função e observo enquanto cais, com a cabeça quase arrancada do teu corpo.

Partiste, mas não vais só. Também eu sinto a vitalidade a desaparecer. Em breve estaremos juntos novamente, para a eternidade. E aí dançaremos ao som da música, desta vez com uma guitarra com todas as cordas. Para todo o sempre.
 
sábado, novembro 14, 2009, posted by # 7 at 23:30
Os galhos secos que se partem quando os pressionas com os teus pés descalços denunciam-te. Os gemidos de dor, que emites enquanto tentas fugir, encaminham-me na tua direcção.
Apesar da máscara que cobre a minha face e parte dos meus ouvidos, a tua respiração acelerada é fácil de ouvir, contrastando com o silêncio dos bosques que tentas utilizar como refúgio.

Como é doce o medo que deixas transbordar. Como é engraçado o facto de ainda seres capaz de te agarrar a uma réstia de esperança, à ilusão de que serás capaz de me escapar e encontrar a tua liberdade.

Pena que este momento não dure para todo o sempre. O momento, a hora, o instante em que o caçador se apercebe que, apesar de dar luta, a sua presa será sempre isso mesmo.......a sua presa.

Corre, minha linda, corre como o vento, deixa que as tuas lágrimas deslizem das tuas faces e se misturem com o orvalho que cobre as plantas. Deixa que o sangue que brota dos teus pés dê cor a este sombrio lugar. Corre, meu amor, foge de mim, luta pela tua vida.

É melhor tirar esta máscara que cobre o meu rosto. Não quero perder pitada. Quero ver o horror nos teus olhos, quero ver-te a veres-me. Quero que os nossos olhares se tornem num só, para que, no momento em que a tua alma abandona o teu corpo, seja a minha imagem a ficar para sempre impressa na tua retina.

Tão bom que é este sentimento, esta adrenalina que me eleva aos céus.

Olha para mim, vê quem eu sou. Olha-me nos olhos antes do primeiro golpe, que te fará jorrar vermelho, como uma mórbida fonte que ilumina a escuridão. Apercebe-te de quem sou, à medida que te retiro as entranhas e as coloco diante de ti para que vejas como é o teu interior nauseabundo. OLHA PARA MIM. Sim, sou eu. Aquele a quem fizeste sofrer. Aquele a quem dedicaste todo o desprezo que continhas em ti. Aquele que foi constantemente espezinhado, humilhado.

Tão bom, sentir o aço frio a enterrar-se na tua carne. És doce, suave.

Nos teus olhos vejo tanto em tão pouco tempo. Medo, expectativa, surpresa, suspense, horror, dor e, por fim, vazio. A morte chegou. Não foi difícil, pois não? Eu sou assim, um coração mole. Não consigo fazer sofrer ninguém.

Adeus meu amor, até qualquer dia, no Inferno.
 
domingo, novembro 08, 2009, posted by # 7 at 00:20

Hoje faço 32 anos de idade.
O choque, não é o que seria de esperar, ou melhor, o que eu esperaria. Acho que a barreira dos 29 para os 30 foi a mais complicada. Agora é só aguentar.

Sinto saudades dos tempos em que encarava o meu aniversário como um dia especial, em que anseava para que as pessoas me dessem os parabéns, que todos se lembrassem de mim.
Agora é um pouco o contrário. Quero é que se esqueçam de mim. Que não me lembrem de que os anos passam vertiginosamente sem que eu me dê conta.

Ainda assim, lá vou eu fazer, ou melhor, vamos fazer um almoço para a família. Pode ser que oiça muito o quanto mais velho estou a ficar.

Certo é que hoje em dia, apesar de quebrada a barreira dos 30, faço coisas com uma vigorosidade que nunca sonharia nos meus 20 anos.
Essa é a razão pela qual me aguento firme, pela qual me sinto jovem.
Tirando isso, sou apenas mais um "cota" de 32 anos de idade, que por aqui anda. Ou melhor, anda, corre e pedala.

Para o ano há mais.......espero eu.
 
terça-feira, novembro 03, 2009, posted by # 7 at 12:27
Sinto-me novamente perdido. E não tinha saudades deste sentimento que volta a estar tão presente.

Questiono permanentemente se os objectivos que pretendo alcançar valerão o sacrifício por que passo. Se valerá a pena, depois de ter vida formada, responsabilidades quanto cheguem, falta de tempo para o que gosto, passar por tanto, sentir-me tão deslocado e sozinho.
Os dias passam e as metas a atingir parecem apenas ilusões que tenho que perseguir para que quem me rodeia me dê maior valor.

Mas não sei se é por aprovação que o faço. Também não sei se é por orgulho. Não sei, não sei nada e esse é o problema. É o não conseguir ter discernimento suficiente para saber o que quero, para onde vou e , principalmente, se valerá a pena. Essa é a questão fulcral.

Monetariamente, fisicamente, psicologicamente, tudo me atinge. Tudo me aflige.

Quantas e quantas vezes me pergunto porque raio ando eu nestas andanças, quando ninguém que não eu manda na minha vida e basta desistir para tudo passar? Quantas vezes me olho ao espelho e vejo um ser fraco, cheio de dúvidas e incapaz de dar um passo firme?

Não sei que fazer, como me comportar. A provação está a revelar ser mais dura do que inicialmente esperado, mas, se desistir agora, muita gente ficará decepcionada comigo.

Perdi-me, achei-me, perdi-me novamente e fui achado. Pensei estar no bom caminho mas, depois de mais um obstáculo ultrapassado, eis que surge uma enorme montanha à minha frente. Sim, é possível escalá-la.......mas é tão difícil.
 
Emanuel Simoes

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