terça-feira, novembro 17, 2009, posted by # 7 at 22:04
O fio metálico aperta, sufoca, deixa marca no teu tenro pescoço, na tua linda e pálida pele. Os meus próprios dedos começam a inchar devido à força que exerço, mas o prazer é demasiado. Bem superior a toda e qualquer dor ou incómodo que me possa assolar.

Não percebes? Não vês que de nada valem os pontapés que desferes, que derrubam todo o tipo de objectos enquanto circulamos pela sala, nesta linda dança macabra? Não entendes que este é um caminho de sentido único, um beco estreito com apenas um princípio e um fim e que, claramente, te encaminhas para este último?

Dancemos então. Derrubemos todo e qualquer obstáculo que se atravesse no nosso caminho. Destruamos este local em que nos encontramos, tão repleto de bens materiais e itens claramente alusivos a um sentido de posse e superioridade perante os demais.

Ouves? Ouves a música que toca só para nós? Ah, claro. Os teus próprios gemidos não te deixam ter esta maravilhosa percepção. São os anjos que tocam para nós, enquanto utilizo eu mesmo a corda de um instrumento musical para finalmente te trazer alguma paz.
Ouve bem, cala-te agora. Que belo solo de guitarra, que linda melodia. Dancemos então, aproveitemos a inspiração angelical. Somos uns privilegiados por nos ter sido concedido tal presente.

Aperto e aperto, danço e rodopio sobre mim mesmo, até que, num instante, o velho ditado que diz que a carne é fraca assume todo o seu significado literal e a corda de aço começa a desbravar caminho pelo teu doce pescoço. O sangue espicha, jorra, ruidosamente. Instintivamente coloco uma tesoura enferrujada na tua mão e sussurro-te ao ouvido; "Leva-me contigo."

O metal entra em mim, impulsionado por todos os resquícios de força que existem no teu ser. Sinto a dor, o ardor, o prazer de saber que estou vivo e a percepção da inevitabilidade da minha eminente morte.

Ainda consigo fazer com que a minha reluzente corda de guitarra cumpra a sua função e observo enquanto cais, com a cabeça quase arrancada do teu corpo.

Partiste, mas não vais só. Também eu sinto a vitalidade a desaparecer. Em breve estaremos juntos novamente, para a eternidade. E aí dançaremos ao som da música, desta vez com uma guitarra com todas as cordas. Para todo o sempre.
 
Emanuel Simoes

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