terça-feira, janeiro 15, 2013, posted by # 7 at 14:03





Porque corro?
Porque gosto de correr?
Porque sinto necessidade de correr, quando não o posso fazer?
Porque será que, quando estou a correr, estou também a pensar na minha próxima corrida, no meu próximo treino?

Tantos porquês, tantas respostas.

Há algum tempo, não muito, a minha resposta seria rápida e consistente: corro porque faz bem à saúde, para me manter em forma.
Mas agora, a resposta não é assim tão linear. Aliás, linear não pode entrar nesta necessidade, nesta vontade incessante de sair à rua e, simplesmente, correr.

Não é para ser saudável, mas também o é. Não é porque faz bem, mas também o é. É um misto de sentimentos, é como uma droga dura, um vício que causa ressaca quando não é atendido.
Já há muito que a condição física ou a forma do corpo deixaram de ser a razão para eu sair à rua e correr. O mostrar o equipamento, os ténis, a velocidade, também tudo isso deixou de ser prioritário nos meus treinos.
Aliás, há muito que prefiro treinar sozinho, no campo, em condições adversas, com lama e chuva, com frio e vento. 
Há muito que é assim que me sinto bem, que me sinto vivo.

E talvez, no meio de todos estes sentimentos controversos, essa seja a resposta: corro para me sentir vivo.

Corro quando estou bem, mas também quando estou mal. Corro quando os meus músculos estão "no ponto", mas também corro com dores, lesionado, cansado. E alguns dizem-me que não o deveria fazer, pois posso piorar as coisas. Mas essas pessoas não sabem verdadeiramente o que é correr por prazer.

Há quem treine duro, quem corra com convicção e com planos e metas bem definidas. Esta ou aquela prova, este ou aquele ritmo. E são essas pessoas que pensam que não vale a pena arriscar quando o corpo se queixa, quando os músculos rasgam e pedem descanso. Mas, para mim, e há que sublinhar o "para mim", essas pessoas não sentem verdadeiramente o prazer em correr. 
A dor faz parte da vida e faz-nos sentir vivos. E se andamos uma vida inteira a sofrer com coisas más, porque raio não havemos de usufruir da dor existente nas coisas que gostamos?

Eu sofro quando corro e ainda assim corro sempre com a sensação de que poderia estar a fazer muito melhor do que estou a fazer no momento. Mesmo quando sei que estou lesionado, mesmo quando sinto dores agudas nas costas, nos pés, no peito. Sei que ainda não é aquele o limite e isso chega a corroer-me por dentro.
Mas continuo no ritmo que posso, tentando de quando em vez superar-me. Umas vezes consigo, outras, nem por isso.
Mas não há problema, porque não estou numa prova, não estou a ser julgado por ninguém que não eu mesmo.
Sou eu e a minha mente.

Aliás, provas em que participo, são cada vez menos. Cada vez menos sinto necessidade de participar em eventos organizados, até porque cada vez menos sinto prazer em participar deles.
É verdade que constituem um bom treino, pois em prova damos sempre mais do que em treino livre. Mas, por outro lado, não tenho a liberdade de correr por onde quero, de deixar a minha mente divagar, de estar num qualquer outro local.

Chegaram mesmo a perguntar-me para que treino tanto, quando não ganho nada mesmo. E essa pergunta, mesmo que possa partir de alguém que até possa praticar algum tipo de desporto, certamente partirá também de alguém que não sente verdadeiramente prazer no que faz. Pois apenas alguém que não sente prazer em treinar pode questionar o prazer dos treinos.

Não ganho nada? Sim, é certo. Até poderia escolher uma modalidade mais acessível que o correr, uma em que houvesse menos competitividade. Talvez assim conseguisse melhor do que um mísero 5º lugar, por escalão, que foi o máximo que alguma vez consegui.
Mas, e o simples prazer? E a simples necessidade de estar ali, a correr, a usufruir do meu tempo, a ver a paisagem que me rodeia? Parece que as pessoas se esquecem disso.

Cada vez mais a definição de tempo bem passado assume estranhos contornos. No meu ponto de vista, pelo menos. 
Sair à noite, beber uns copos, ir a um bar ou discoteca, deitar-se tarde e dormir até tarde. Levantar cedo, só quando é para ir trabalhar e, como tal, sempre que se pode, há que dormir mais e mais horas. Estar fechado, deitado no sofá a ver filmes, descansar no fim-de-semana para ter energias para trabalhar durante a semana.

Agora será a minha vez de perguntar: Para que saem tanto, descansam tanto, perdem tanto tempo parados? Para quê? É isso, a vida, o viver?
Talvez seja, admito. Mas não para mim.

Resumindo, a resposta para a pergunta sobre o porquê de eu dar tanta importância à corrida, pode ser mais simples que o que seria de esperar. 
Pensem naquilo que mais gostam de fazer, seja beber, comer, fumar, ver programas idiotas na tv, passear, dormir... Multipliquem por 1000 e aí está. 

De qualquer forma, quem quiser pode continuar a chamar-me de maluco. Eu até gosto.             
 
Emanuel Simoes

Criar seu atalho