terça-feira, maio 01, 2012, posted by # 7 at 23:18

Como inúmeras ocorrências banais da vida, a sua própria existência baseava-se em contradições, diferentes estados de espírito e muitas dúvidas.

Se durante o aborrecido passar das horas, parecia uma pessoa normal, com um emprego normal, uma família normal, uma vida normal, a verdade é que bem dentro de si, tudo era confuso e longe de ser nítido.

As distrações do dia a dia, o formigueiro em que vivia, permitiam que os seus pensamentos divagassem para longe do que realmente constituia o seu "eu", a sua essência. E assim, a existência, apesar de penosa, tornava-se suportável.

O pior era mesmo à noite, à hora em que o seu corpo implorava por descanso e nada mais restava que atirar com a sua própria carcaça para cima daquele velho colchão, na esperança de conseguir algum descanso. Aí, existiam duas e apenas duas opções: Ou simplesmente tentava aguentar o máximo tempo possível acordado, até que realmente não desse para mais, ou afogava-se em alcóol, esperando que o efeito fosse o mesmo, mas de forma mais rápida e eficaz. 
E tudo isto constituia naturalmente um enorme transtorno para ele, quanto mais não fosse pelo facto de ser um defensor acérrimo da prática desportiva e de uma vida levada de forma saudável.

Mas, por outro lado, os fantasmas costumam ser mais fortes do que qualquer convicção. E este era o caso.
Se recolhesse ao seu local de descanso "limpo", por mais cansado que estivesse, dificilmente conseguiria dormir uma noite descansada. Os inúmeros "ses" que assombravam a sua vida, simplesmente inundavam a sua mente e mantinham-no acordado por longas horas, por vezes, durante toda a noite. "E se eu conseguisse aquilo?", "Se eu tivesse mais estudos.", "Se eu fosse melhor pessoa.". Todas as questões inerentes a uma vida de constantes dúvidas existenciais pairavam sobre a sua cabeça, continuamente, incessantemente.

Por outro lado, se abraçasse o mundo da fantasia, originado pela ingestão de substâncias alcoólicas e, por vezes, de outras origens, as suas noites eram simplesmente imensos buracos negros, onde nada se passava, onde tudo era simplesmente escuridão, vazio.

Tal situação fazia com que as suas manhãs fossem, também elas, diferentes, consoante o estado de espírito em que se encontrava na noite anterior. Ou despertava livre de maus pensamentos, mas a sentir-se terrivelmente mal fisicamente, ou se levantava fisicamente bem, mas com a mente destroçada.

E isto durou, durou e durou um pouco mais. E, como qualquer balão que lentamente vê o ar a enchê-lo lentamente, sem nunca parar, um dia a explosão será e foi inevitável.

Um dia, sem que nada o fizesse prever, comprou uma arma e decidiu terminar com toda e qualquer ligação que tivesse neste mundo. Isso incluía família e amigos, claro. Esposa, filhos, amigos chegados, pais, avós.......

Tudo preparado, um último olhar diante do espelho, para observar o monstro uma última vez e.......tudo mudou. Dúvidas, questões, arrependimentos...e a questão surgiu: "Se sou eu que tenho os problemas, porquê fazer sofrer quem nada tem a ver com isso?".

Um click, uma explosão de pólvora, ossos estralhaçados, carne queimada, sangue nas paredes, problema resolvido.
E a partir daí todas as noites foram serenas e pacíficas, sem problemas a assombrar a sua mente.
 
Emanuel Simoes

Criar seu atalho