sábado, novembro 27, 2010, posted by # 7 at 01:09





O caminho que sigo, ou os caminhos que sigo, poderão nada significar. Poderão ser apenas, aos olhos de quem vê de fora, mais uma estrada, mais um trilho, mais um pedaço de alcatrão dou de areia. 


Mas quando estou só, escutando a música que vem dentro de mim, sob forma de pensamentos, sinto-me feliz. Sinto-me vivo. Não importa a dor, o cansaço, não importa o que fiz ou o que terei ainda que fazer. Naquele momento, aquela linha que tracei para mim mesmo, é tudo o que importa. 


Pode chover, trovejar, estar vento e frio, pode estar tudo junto, que eu aguento e até agradeço. Pois meditar ao ritmo de exercíco físico, com bom tempo e com dezenas de outras pessoas em meu redor, não resulta.


Assim, prefiro traçar as minhas metas nestas alturas, em que a chuva cai e o frio se faz sentir, em que os demais inventam desculpas para não sair de casa, deixando-me sozinho, como eu gosto, como eu preciso.


Por vezes rio, por vezes choro, por vezes fico triste. Tudo isto enquanto percorro a linha, sozinho. Sei que os que me observam devem achar que sou louco, que não bato bem. Mas não me importa. Eles não sabem o que é sentir-se uno com o mundo, com a natureza. Eles não sabem o que é sofrer fisicamente e gostar desse sofrimento.


Sigo a minha linha, a linha que tracei. Sigo-a e sofro, sigo-a e sorrio, sigo-a e choro. De felicidade? De tristeza? Quem sabe? O que interessa isso afinal. Sigo-a até ao fim do mundo, até que o mundo acabe comigo, até ao meu fim.


Sou louco? Sou sim. Sou louco, pois o mundo não merece a minha sanidade.
 
quinta-feira, novembro 25, 2010, posted by # 7 at 23:25

Hoje foi um dia estranhamente estranho para mim. Não que os meus dias sejam banais, até porque a minha vida parece ser uma pequena caixa de surpresas, nos dias que correm, mas hoje, hoje foi estranhamente estranho.

Não costumo, nem gosto de falar de trabalho, especialmente do meu, mas, o certo é que esta semana não foi normal. Tenho uma lesão nas costas, o meu pequeno traquinas está doente e, juntamente com a greve geral do passado dia 24 e com a escola, acabei por trabalhar apenas 2 horas esta semana.
Ora é claro que a especulação entrou em funcionamento e, para não variar, no pequeno grande círculo que é o meu local de trabalho, muitas pessoas tinham as suas opiniões e conclusões a respeito da minha ausência. Digno de uma novela da TVI, suficiente para manter uma família de classe média em frente à TV durante largo período de tempo.

Mas enfim, como quem me conhece sabe, é para o lado que durmo melhor. Esse tipo de pressão deixou de surtir efeito em mim há muitos anos.

Lá fui eu para a escola, após 2 árduas horas de trabalho (por acaso até nem é fácil o que faço) tentar que a minha mente absorvesse pelo menos a generalidade do que o Professor se propôs a transmitir.

Devo dizer que tenho andado desmotivado, com falta de motivação e com a motivação em baixo. Mas esta semana, tão pouco produtiva em termos de emprego, revelou-se imensamente revigorante em termos académicos. Recebi umas mensagens de incentivo, que me deixaram a pensar se desistir será realmente uma opção. Depois, alguém me propôs a elaboração de um trabalho escrito, sobre um tema em particular, que não será relevante para esta postagem. Isso, sinceramente, revigorou-me, transmitiu-me alguma confiança e responsabilidade.

À noite, já em casa, dou por mim sentado a ver uma entrevista com um reconhecido (e muito) treinador de futebol. Digam o que disserem, argumentem o que argumentarem, uma coisa é certa: ser arrogante não é dizer que somos bons quando realmente o somos. Ser arrogante é termos a mania que somos bons e, na realidade, somos banais. O que tem isto a ver com o que escrevi anteriormente? Nada. Ou melhor, TUDO. 

Sozinhos, temos tendência para nos isolarmos ainda mais, para nos concentrarmos nos nossos defeitos. Se nos estenderem a mão, começamos a perceber que talvez tenhamos potencial, que talvez a glória não seja algo tão utópico assim, que se formos humildes, nos podemos dar ao luxo de ser arrogantes.

Isso é ter o poder de se ser poderoso.

Obrigado a todos os que me estendem a mão, mesmo sem promessas de encontrar a terra prometida, mesmo sem ilusões de ser alguém que não sou. Um pequeno voto de confiança faz de mim o ser mais poderoso do mundo, nem que seja por um momento apenas.
 
sexta-feira, novembro 19, 2010, posted by # 7 at 01:00





Em dias, ou até mesmo anos passados, era bem mais recorrente observar as pessoas que observavam, com os cotovelos apoiados nos parapeitos de suas janelas. Umas fumavam, enquanto olhavam, outras apenas estavam ali, sem nada fazer para além do simples acto de observar e outras até falavam entre si, em amena cavaqueira. E isto acontecia em todo o lado. Ok, talvez não nas grandes avenidas das grandes cidades, mas em qualquer rua ou bairro, as janelas tinham vida, estavam preenchidas.

Já nos tempos presentes, embora ainda seja possível existirem alguns "janeleiros", a verdade é que as pessoas ganharam uma tendência para se esconderem, para se isolarem de tudo o que não faça parte directa e integrante do seu dia a dia mais pessoal. E, para alimentarem convenientemente esta crescente tendência, o que melhor do que aquela caixa mágica que tanto e tão bom entretenimento nos proporciona? Sim, o que será melhor que dispender do tempo que temos sentados em frente ao televisor, a observar atenta e ansiosamente as novelas ou os programas de extrema qualidade cultural que existem actualmente na programação nacional?

O contacto humano decresce, a olhos vistos, e em simultâneo toda a gente diz que o mundo é um local cada vez mais pequeno, devido à crescente passagem de informação. Ou seja, estamos cada vez mais próximos uns dos outros e, em simultâneo, cada vez mais isolados uns dos outros.

Estranho? Não. Nada disso. Afinal, não é uma caixa mágica?
 
segunda-feira, novembro 08, 2010, posted by # 7 at 14:02





Abri os olhos e dei por mim no meio da natureza. Isolado, sozinho, pedalando em cima da minha bicicleta. E senti-me bem.


O vento fazia-se sentir e trazia consigo nuvens carregadas, prontas a fazer cair a sua chuva sobre mim. E senti-me bem.


Pedalei mais e mais, subi, desci, sofri, sorri. Tanta coisa em tão pouco tempo. Tantos sentimentos, físicos e sem ser físicos, que sinto quando estou só, afastado de tudo e de todos.

Tive frio e calor, pedalei debaixo de chuva e debaixo de Sol. Sujei-me na lama que começa a predominar na serra.
E senti-me bem. Com tudo, com o sofrimento, com o divertimento, com a solidão, com a natureza.

Foi assim que comecei o meu dia de aniversário. A pedalar sozinho. E senti-me bem.
 
domingo, novembro 07, 2010, posted by # 7 at 22:23

Estou a escassas horas de completar 33 anos de existência neste maravilhoso planeta, tão repleto de alegrias e motivações pessoais para qualquer indivíduo que nele habite. 33 anos de experiência de vida e, infelizmente, não posso dizer que a maioria do que foi por mim absorvido tenha sido benéfico. Muito antes pelo contrário: tenho a minha família, os meus (pouquíssimos) amigos e a minha força de vontade. De resto, tudo é lixo, tudo é vago, tudo são tristezas e decepções( ou deceções, pelo novo, e igualmente estúpido, acordo ortográfico).

Não me sinto feliz por pertencer a este vasto leque de seres que se auto intitulam de seres-humanos, não aprecio o facto (fato é de vestir) de, cada vez mais, o dinheiro e o poder serem factores decisivos para estar bem na vida e ainda mais desprezo o facto de que, apesar da inteligência ser uma das maiores virtudes que o ser.humano tem ao seu dispôr, quem nos governa tem uma nítida falta dessa mesma condição.

Mas enfim, aqui estou eu armado em rezingão, quando me encontro às portas de uma data que deveria ser de celebração. Celebrar a vida, 33 anos depois de ter sentido pela primeira vez o ar que nos rodeia, a luz que nos ilumina.

Como referi, felizmente tenho a minha família, o meu pilar, a minha luz guia. Tirando isso, tudo em meu redor me causa repulsa, nojo. A mesquinhice, a inveja, o prazer que as pessoas têm em ver os outros em sofrimento, a hipocrisia. Tantos são os defeitos desta triste raça, que é preferível enunciar as virtudes. Pelo menos essas ocupam menos linhas.

Bem, lá estou eu novamente a fugir ao assunto. O tema aqui é o facto de eu estar a ficar velho. Devo admitir, tenho medo da velhice, da morte, de perder o que me é querido. Não gosto de estar a ficar velho. Mas, por outro lado, a nível físico, sinto-me melhor que nunca. Aliás, deixo aqui um desafio, próprio de um cota demente, cujos anos vão retirando toda e qualquer réstia de sanidade: se por aí houver um jovem que queira vir dar umas corridas ou umas pedaladas comigo, chegue-se à frente. Old against new. Quase um título cinematográfico.

Parabéns a mim, então.
 
quarta-feira, novembro 03, 2010, posted by # 7 at 13:55

Mais uma vez subi à serra. O dia estava escuro, o frio era muito e o vento forte fazia-se sentir. Vesti a minha roupa, o impermeável incluído, claro, e parti para mais um “retiro” só meu. Um daqueles momentos só meus em que me sinto bem comigo mesmo. Grande e pequeno em simultâneo, forte como um herói e fraco como uma formiga. 

Comecei a trepar, cheio de motivação e feliz por estar ali uma vez mais. No meio da natureza, onde não passam carros nem se avistam centros comerciais. Apenas pedras, vegetação, o vento, a chuva.......

As rochas estavam escorregadias e, por diversas vezes, apanhei alguns sustos. Escorregõres, tropeços, pés mal colocados no chão. Tive mesmo que passar por uma zona onde tinha pouco mais de 5 cm para colocar os pés. Mais ao lado e seria uma bela queda, ou em cima de espinhos, ou dentro de um riacho que corria lá em baixo.

Quando cheguei quase ao topo, começou a chover pedra. O vento empurrava-me, tal era a sua força. Abriguei-me debaixo de uma rocha e olhei para cima. As nuvens passavam por cima de mim, negras e velozes. Senti-me pequeno. Pequeno e cheio de respeito. Ah, tretas, senti medo mesmo. As nuvens estavam tão baixas e os trovões ouviam-se tão perto que senti medo de ali estar. Mas tal sentimento não me demoveu, como é óbvio. Aliás, penso que quanto mais medo, quanto mais receio, mais eu quero lá estar. Sentir aquele pico de adrenalina. Saber que estou só, no meio do nada. É tão reconfortante.

Já não estou no norte, naquela maravilhosa região em que a natureza, definitivamente, impõe a sua presença. Mas assim que lá voltar, tornarei a subir aquelas rochas, aqueles montes.

Lá em baixo, na nossa casita, a minha estrelinha via-me, graças ao meu impermeável fluorescente. Quando cheguei da subida, ela disse-me: "Papá, eu vi-te a subir a montanha para agarrares as nuvens."

http://www.youtube.com/watch?v=DK5_n_t-JxM
 
segunda-feira, novembro 01, 2010, posted by # 7 at 20:50
Todos os anos costumo escrever sobre o Natal. Mais precisamente, sobre a forma cada vez mais precoce que este é anunciado, publicitado, referenciado. 

Cada ano que passa, o aparecimento de itens alusivos à quadra natalícia surge mais cedo. No ano passado, fiquei muito admirado de ter visto os primeiros indícios do Natal no dia 22 de Outubro. "Absurdo", pensei. A verdade é que deveria ter sido mais inteligente e constatado que, pela tendência das coisas, essa precocidade não se ficaria por aí. Ou seja, se no ano passado foi no dia 22 de Outubro, este ano, obviamente teria que ser mais cedo. Assim, no dia 17 de Outubro, já existiam montes de lojas a vender àrvores de Natal, decorações e afins. Uma tristeza. Um verdadeiro hino ao consumismo desenfreado.

Pela evolução que tenho vindo a constatar, ano após ano, não tardará muito para que hóteis e agências de viagens comecem a oferecer brindes alusivos ao Natal em fins de Agosto. Para quê parar as férias? Porquê poupar algum dinheiro? Nada disso. Terminou o Verão? Então vamos lá a gastar nas decorações de Natal. E depressa, senão os materiais ficam demasiadamente escolhidos.

Resumindo, há que não parar de viver as festividades, manter o espírito bem aberto ao que quer que seja que a altura do ano estiver a pulicitar e gastar. Gastar o mais possível, para sermos sempre melhores que o vizinho, sermos os mais vistosos, os que têm bom gosto. Sermos sempre superiores aos demais. Essa sim, a verdadeira essência do ser-humano.

 
Emanuel Simoes

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