Mais uma vez subi à serra. O dia estava escuro, o frio era muito e o vento forte fazia-se sentir. Vesti a minha roupa, o impermeável incluído, claro, e parti para mais um “retiro” só meu. Um daqueles momentos só meus em que me sinto bem comigo mesmo. Grande e pequeno em simultâneo, forte como um herói e fraco como uma formiga.
Comecei a trepar, cheio de motivação e feliz por estar ali uma vez mais. No meio da natureza, onde não passam carros nem se avistam centros comerciais. Apenas pedras, vegetação, o vento, a chuva.......
As rochas estavam escorregadias e, por diversas vezes, apanhei alguns sustos. Escorregõres, tropeços, pés mal colocados no chão. Tive mesmo que passar por uma zona onde tinha pouco mais de 5 cm para colocar os pés. Mais ao lado e seria uma bela queda, ou em cima de espinhos, ou dentro de um riacho que corria lá em baixo.
Quando cheguei quase ao topo, começou a chover pedra. O vento empurrava-me, tal era a sua força. Abriguei-me debaixo de uma rocha e olhei para cima. As nuvens passavam por cima de mim, negras e velozes. Senti-me pequeno. Pequeno e cheio de respeito. Ah, tretas, senti medo mesmo. As nuvens estavam tão baixas e os trovões ouviam-se tão perto que senti medo de ali estar. Mas tal sentimento não me demoveu, como é óbvio. Aliás, penso que quanto mais medo, quanto mais receio, mais eu quero lá estar. Sentir aquele pico de adrenalina. Saber que estou só, no meio do nada. É tão reconfortante.
Já não estou no norte, naquela maravilhosa região em que a natureza, definitivamente, impõe a sua presença. Mas assim que lá voltar, tornarei a subir aquelas rochas, aqueles montes.
Lá em baixo, na nossa casita, a minha estrelinha via-me, graças ao meu impermeável fluorescente. Quando cheguei da subida, ela disse-me: "Papá, eu vi-te a subir a montanha para agarrares as nuvens."
http://www.youtube.com/watch?v=DK5_n_t-JxM