quarta-feira, junho 15, 2011, posted by # 7 at 00:29





No dia em que chegar a minha hora, gostava de ir de forma diferente. Gostava de evitar a cama onde lentamente morrerei, ou o acidente, em que a vida abandonará a minha carcaça, ou o evento em que tombarei inanimado repentinamente. 

Gostava de algo mais fantasioso, mais irreal, mais surrealista.

Imagino-me numa noite quente de Verão, estando em pé em cima de um tronco velho numa qualquer planície em que os vestígios da ação humana são inexistentes. Sentindo o ar quente da noite, ouvindo os grilos e olhando para as estrelas, brilhando, despertando curiosidades e dúvidas. De repente, algo em mim me faz saber que chegou a minha hora e começo a sentir a adrenalina a crescer em mim. Pétalas de todas as cores rodeiam-me, como que se fossem borboletas, acompanhadas de uma luz brilhante e até mesmo ofuscante, que me deixa algo confuso.

Sinto-me rodeado e, quando finalmente deixo de ser capaz de olhar para fora daquela minha prisão de natureza, entrego o meu corpo e aceito o destino da minha alma. Elevo-me no ar e, de repente, o meu corpo desintegra-se, restando apenas a minha alma, que ascende, não aos céus, mas ao céu. 

Para de lá contemplar o que de bom e de mau fiz. O que gostei e o que me arrependi de não ter feito.

É assim que quero ir, subitamente, numa quente noite de Verão, sem que ninguém esteja por perto.

Porque na verdade, ninguém se importa.
 
1 Comments:


At 15 de junho de 2011 às 14:07, Blogger Naraki

Estava tudo muito bonito... mas depois estragou com a última frase -.-

 


Emanuel Simoes

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