No dia em que chegar a minha hora, gostava de ir de forma diferente. Gostava de evitar a cama onde lentamente morrerei, ou o acidente, em que a vida abandonará a minha carcaça, ou o evento em que tombarei inanimado repentinamente.
Gostava de algo mais fantasioso, mais irreal, mais surrealista.
Imagino-me numa noite quente de Verão, estando em pé em cima de um tronco velho numa qualquer planície em que os vestígios da ação humana são inexistentes. Sentindo o ar quente da noite, ouvindo os grilos e olhando para as estrelas, brilhando, despertando curiosidades e dúvidas. De repente, algo em mim me faz saber que chegou a minha hora e começo a sentir a adrenalina a crescer em mim. Pétalas de todas as cores rodeiam-me, como que se fossem borboletas, acompanhadas de uma luz brilhante e até mesmo ofuscante, que me deixa algo confuso.
Sinto-me rodeado e, quando finalmente deixo de ser capaz de olhar para fora daquela minha prisão de natureza, entrego o meu corpo e aceito o destino da minha alma. Elevo-me no ar e, de repente, o meu corpo desintegra-se, restando apenas a minha alma, que ascende, não aos céus, mas ao céu.
Para de lá contemplar o que de bom e de mau fiz. O que gostei e o que me arrependi de não ter feito.
É assim que quero ir, subitamente, numa quente noite de Verão, sem que ninguém esteja por perto.
Porque na verdade, ninguém se importa.