Toda a gente tem um local de eleição, um sítio onde se sente bem, confortável, longe dos problemas que nos assolam a todos.
Para uns é o café, onde se encontram com os amigos, para outros é o centro comercial, onde passeiam e fazem compras, para outros é o sofá da sala, onde se sentam, relaxam e se alienam deste mundo e dos seus problemas.
Todos esses locais são válidos, são, digamos, socialmente aceites.
Pois eu também tenho o meu local de eleição. O único local neste mundo onde consigo estar e realmente ser eu, sem as tão utilizadas máscaras que a sociedade nos impõe, sem as falsas moralidades inerentes à tristeza de se ser humano.
O local onde eu mais gosto de passar tempo, de ouvir música, de pensar, esse local tão remoto e único, situa-se precisamente dentro de mim mesmo. É um canto que guardo na minha mente, onde me dou ao luxo de não envelhecer precocemente, de me permitir a sonhar e a ambicionar, de ser diferente destes tristes seres que me rodeiam e que de alguma forma governam o meu mundo.
Não, não estou a afirmar que sou melhor que ninguém. Aliás, eu devo ser o pior de todos. Devo ser o mais deslocado dos deslocados.
Ainda tenho a esperança que um dia alguém me decida internar e aí sim, terei tempo para me dedicar ao que gosto de fazer. Irai compor músicas, escrever, cantar, gritar. Sempre sem me preocupar com o que pensam ou deixam de pensar.
Apenas neste pequeno e escuro canto na minha mente me permito ser verdadeiramente livre. E feliz. Pois se disser que alguma vez fui verdadeiramente feliz, estarei a mentir.
Apenas neste espaço por mim criado e por mim alimentado me sinto bem. Pois aqui sou quem sou digo o que tenho a dizer e silencio-me, quando assim tem que ser. Masnão por obrigação. Por opção.
Neste meu escuro e sombrio canto, sou eu, o verdadeiro eu. Sem fingimentos, sem falsas esperanças. Apenas aguardando a minha hora. O momento em que deixarei de pertencer a esta triste raça que sobrevive apenas da sua própria desgraça.