É estranho como vamos mudando ao longo do tempo. Tem certamente que ver com a maturidade que se vai adquirindo, embora nem todas as mudanças sejam as melhores ou para melhor.
Mas no que diz respeito ao tema da morte, a minha opinião mudou muito.
Lembro-me de achar a morte fascinante, de pensar que seria a única verdadeira forma de descansar, se estar em paz. De certo modo, idolatrava a morte, pois, em princípio, nela não há dor, não há sofrimento, não há nada. E assim era eu, até que este "não há nada" me bateu, juntamente com a vontade de viver e de viver intensamente, sempre que possível.
Hoje, quando vejo jovens a morrer, pais a perderem os filhos, amores separados por essa foice mortal, não fico feliz. Não associo essas ocorrências a nenhum tipo de paz. Hoje, prezo a vida, a luz. Toda aquela escuridão, toda aquela fantasia pelo negro e pelos rituais relacionados com o obscuro, desapareceram.
Não consigo imaginar nada pior que um pai perder um filho, um filho perder um pai. Do que sentir que alguém se foi com tanto ainda por concretizar.
A morte, a escuridão, a tristeza, tudo isso é mau. Tudo isso é dispensável.
Não, não quer dizer que tenha mudado a minha opinião em relação aos seres-humanos e à sua eterna campanha para contaminar o planeta com a sua podridão. Continuo a não gostar de ser esta espécie de vírus. Mas não gosto de pensar que posso desaparecer de repente sem que ninguém dê por isso.
Por outro lado, gosto muito de gomas.