sábado, janeiro 22, 2011, posted by # 7 at 22:42

Ali estava eu, apesar de solitário, sentindo-me cómodo, pensando que estava a controlar a situação.

Ninguém teria nada a pontar, a criticar. Fazendo o que todos esperavam que fizesse, comportando-me da forma que todos achavam ser correcta.

Guardava os meus ideais para mim. Os meus sonhos, prendia-os a sete chaves, no meu enorme e sombrio cofre da vida, aquele que detém a minha essência, pois não me atrevo a ser quem quero ser.

Ali estava eu, no meu canto escuro, lar da minha alma, local onde ninguém se costuma aproximar, onde ninguém me incomoda, onde me isolo, até de mim mesmo.

Subitamente, uma estranha luz desviou-me da minha reconfortante escuridão. Estranha, pois não era uma luz pura, uma luz angélica. Era muito mais que isso. Era uma luz que emanava da escuridão. E uma escuridão que tinha em si uma enorme luz. Toda uma enorme contradição que se aproximava de mim, subitamente, sem que estivesse à espera.

Essa luz cativou-me. Essa escuridão libertou-me. Saí de mim mesmo, afastei-me do meu canto, do meu local de segurança e atrevi-me a sonhar.

Ousei elevar-me acima das nuvens, onde o Sol brilha e faz esquecer da realidade. Atrevi-me a sorrir e a imaginar o inimaginável. Que poder enorme que aquela luz tinha sobre mim. Que força soberba que aquela escuridão despertava em mim.

Libertei-me de preconceitos e deixei a minha alma fluir e seguir a corrente que a puxava. Fechei os olhos, abri os braços e entreguei-me às masravilhosa luminosidade daquela imensa escuridão.

E, quando já retirava alguma da minha energia vital dessa imensa energia que tão subitamente surgira na minha vida, a luz foi ofuscada pelo cinzento e a escuridão desvaneceu-se num enorme clarão de luz irritante e inquietante.

Tudo se inverteu de um momento para o outro, deitando por terra tudo o que eu ousara ter sonhado até então.

Durante um breve momento da minha vida, vi como a luz pode viver na escuridão e como a escuridão se pode tornar tão bela com aquela luz.

Agora, estou de volta no meu canto. Frio, húmido, bolorento, isolado.
 
Emanuel Simoes

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