domingo, dezembro 26, 2010, posted by # 7 at 23:57
Estava deitado, sozinho como sempre. O som do vazio era a única coisa que me ocupava a mente, como já vinha sendo hábito, desde que decidiste partir, deixando-me só. entregue ao desconhecido.
Nesse dia, nesse negro dia que até hoje me assola a mente, arrancaste-me o coração do peito, cuspiste nele e atiraste-o para o chão, diante dos meus olhos lacrimosos. E sorriste, enquanto caminhavas, para fora da minha vida.
Com o tempo, fui-me acostumando à solidão, ao facto de me teres abandonado, sem qualquer justificação. Definhei, olhei por tempo indeterminado para as paredes bolorentas do meu pequeno apartamento. As humidades que se apoderavam das paredes da minha casa, pareciam também se apoderar da minha mente, tornando-a débil, doente. Incapaz de tomar decisões acertadas, de viver normalmente.
Quando já me acostumava a ser quem era, uma triste sombra do meu ser, surgiste de novo na minha vida, sorrindo como se nada se tivesse passado.
Caminhaste até mim, parecendo um anjo, iluminado por uma celestial luz. Esse teu sorriso capaz de derreter o coração do homem mais duro do mundo. És linda.
Quando chegaste até mim, dizendo: "perdoa-me", eu nada mais era que uma fraca figura humana, curvado perante a minha dor, a minha tristeza.
Olhei para ti. Ouvir essa doce voz e olhar para esse lindo sorriso, trouxe-me alguma humanidade à minha triste existência.
Os teus olhos azuis encontraram-se com os meus, o teu pedido de desculpas penetrou na minha alma, o teu odor fez-me querer viver de novo.
E foi nessa altura que te penetrei. Penetrei o teu corpo terreste com a minha fria lâmina de aço. Lentamente, gentilmente.
A princípio gemeste, os teus olhos abriram-se violentamente, como que tentando perceber o que se estava a passar.
Quando o teu olhar cruzou o meu, já percebendo o que se passava, notei uma expressão de acomodação na tua face, de aceitação. E aí, sorri. Sorri porque estavas agora a viver a minha vida, ainda que para ti fosse mais fácil, pois o fim estava próximo.
Forcei a entrada da lâmina no teu perfeito corpo, destituindo-o de toda essa superficial perfeição de que tanto te gabavas. Rasguei-te a carne, saboreei-te o sangue.
E para mim, o fim não era sequer uma hipótese. Desde o dia que me humilhaste que eu anseava por este momento de demência, quando nós os dois estaríamos juntos numa orgia de dor e de prazer que culminaria na morte de ambos.
Matei-te, lentamente, pois queria a todo o custo certificar-me de que sofrerias até ao último suspiro. Rodei a lâmina dentro de ti, sentindo os teus violentos espasmos e segredando-te ao ouvido que tudo iria correr bem e que te amava, incondicionalmente.
Ficou claro que esta não era a recepção que esperavas, quando, egoísticamente, resolveste regressar para os meus braços.
Mas, lamentavelmente, este foi o teu fim. O local onde começou a tua aventura foi o local onde o sofrimento se apoderou de ti.
Pensei em matar-me, após te retirar a vida. Mas a sensação foi boa demais. Vou fica por cá.......para repetir a dose, coberto pelas sombras do passado.