Façamos uma sondagem para determinar até que ponto as pessoas encaram a verdade, no seu sentido mais apurado, como um bem essencial à sua felicidade e, cedo constataremos que a grande maioria responderá afirmativamente. Que sim, que a verdade é que interessa, que a verdade vem sempre ao de cima, a verdade acima de tudo.
Agora um exercício mais difícil, não ao alcance de qualquer um, pois por muito que pensemos que realmente estamos certos sobre tudo, a verdade é que, normalmente, estamos apenas a enganarmo-nos a nós próprios. Fechemos os olhos, pensemos em tudo o que fizémos na vida. Em tudo o que somos e em tudo o que queriamos ser. Em tudo o que fizémos e em tudo o que realmente gostariamos de fazer.
Pois é. Para quem consegue abstrair-se completamente do seu mesquinho ser, a conclusão pode ser devastadora. Passamos uma vida inteira a idealizar algo que nunca seremos. E a verdade, bem, a verdade não passa de uma palavra de 7 letras. A verdade só nos interessa quando é boa, elogiadora, alegre.
Quem gosta de ouvir dizer que está mais gordo, que está a ficar careca, que é irritante, que tem mau hálito? Quem, no seu perfeito juízo (se é que tal é possível) gosta de ouvir dizer que é uma pessoa má, egoísta, egocêntrica? Quem realmente quer ouvir a sua mulher ou marido afirmar que é infiel? Quem? Eu respondo. NINGUÉM.
Não me venham com tretas, dizendo-me que a verdade nos libertará. Libertará do quê? Digam-me, se souberem.
Pois eu digo o contrário. A mentira sim, nos libertará. Nos permitirá ser-mos simpáticos, mesmo para quem não queremos ser. Permite-nos ser grandes, quando na realidade somos vermes. Permite-nos sorrir, quando por dentro choramos.
A verdade é uma ilusão. Uma falsa religião seguida pelos fracos, que viverão as suas vidas na pura ilusão de que são alguém no mundo, que fazem a diferença, que são especiais.
Pois eu vos digo, ninguém é ninguém. Somos todos feitos desta massa, deste misto de carne, sangue e osso. Somos todos o mesmo e para o mesmo iremos.
A verdade? Ninguém aguenta a verdade.