Ultimamente e invariavelmente, as notícias nos jornais televisivos e escritos passam pela catástrofe de proporções gigantescas que ocorreu no Haiti e nas suas imensas vítimas.
Para não variar, os corpos mutilados e em estado de putrfacção são as imagens mais frequentes nas nossas televisões. Se a violância e o sexo vendem, a morte vende muito mais.
Não digo que fechemos os olhos ao que se passa no mundo, ao sofrimento destas pessoas. Mas penso que a mensagem não terá necessariamente que passar pela visualização de tanto sangue e violência.
Infelizmente, outros mais não concordarão comigo, sendo que esses outros mais serão em muito maior número que eu.
Ainda assim, no meio de tanta mutilação, sangue e sofrimento, lá surgem notícias de um importante desfile de moda em que os portugueses têm papel preponderante e ambicionam alargar horizontes no meio da moda.
Vestidos absurdos e sem qualquer utilidade prática são mostrados em manequins ridiculamente magras, que mais fazem lembrar vítimas do holocausto em campos de concentração. Cores absolutamente berrantes em vestidos perfeitamente ridículos. E nós, na nossa imensa estupidez, olhamos e comentamos, esquencendo quase por completo aquele pequeno bebé que morreu debaixo dos escombros de um hospital em ruínas.
Ah, calma, não nos esquecemos. Apenas fizémos um pequeno intervalo. Afinal de contas, o orgulho português está em jogo.
Tantos a perecerem diante de atitudes e decisões mal tomadas, perante catástrofes e acontecimentos macabros. Tantos que assaltam, violam, agridem e vandalizam o nosso mundo. Tantos que abusam do poder que têm, ainda que momentâneo. E nós? O povinho? As formigas? Bem, nós acomodamo-nos e regogizamo-nos pelo facto da moda portuguesa estar de tão boa saúde além fronteiras.
E viva Portugal, do futebol à moda, o importante é que falem de nós.