quarta-feira, setembro 02, 2009, posted by # 7 at 21:19
Adoro-te.

Adoro a tua imagem, o teu olhar enigmático que nunca deixa verdadeiramente transparecer o que te vai na alma.

Adoro cada curva do teu corpo, cada traço que te define.

Perco-me durante horas, dias se for preciso, na tua imagem.

Venero tudo em ti. És a perfeição. És única, insubstituível.

Sinto o teu odor e arrepio-me, o teu toque faz-me estremecer, sair de mim. Elevas-me a um nível que nunca imaginei ser possível.

És a música que quero ouvir até que a minha alma decida abandonar o meu corpo. A tua voz é suave, doce, límpida. Faz-me sentir que estou a voar sobre todo este lodo em que vivo.

O teu corpo é um sonho. Um desejo intangível para o comum dos mortais. Uma tentação até para quem diz ser imune ao desejo.

A tua perfeição leva-me a pensar que não sou merecedor de ser teu, de seres minha.
A luz que deixas transparecer elimina toda e qualquer réstia de escuridão que teimosamente insista em trazer tristeza à minha vida.

És bela, a mais bela.

És tudo para mim, és minha e eu sou teu. Teu até ao fim, mesmo depois do abraço inevitável da morte. Serei teu, serás minha.

Abro os olhos. O tecto é negro, o ar é húmido, desagradável, doentio. As paredes de cimento, por pintar, cercam-me. Parecem querer abraçar-me num aperto sufocante.
Penso novamente em ti e encaro a realidade. Não existes. És um sonho, o meu sonho.

Fecho os olhos e volto à podridão.

Adoro-te, mas não és real.
 
Emanuel Simoes

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