Tenho uma mente muito mórbida. É um facto, um dos meus defeitos, algo inegável.
Quando olho para uma pessoa, mais do que a individualidade, o ser-humano que se apresenta perante mim, eu vejo a morte. Imagino como será que aquele recipiente de sangue, carne e ossos morrerá. Se sofrerá, se será de acidente, de doença. Penso sobre a possibilidade de, no momento em que estou a observar a pessoa em causa, se não sofrerá já de alguma doença, alguma infecção. Não, não faço de propósito nem tão pouco me quero armar em gótico, vampiro, emo, ou qualquer outro estilo estupidificante que me queiram chamar. É apenas o que penso, instintivamente. A morte é algo presente em mim, todos os dias da minha vida. O envelhecimento, a degradação.
Enfim, toda esta estranha introdução para falar de algo que poderá não parecer muito ligado ao tema.
A verdade é que, quanto mais o tempo passa, mais me sinto viciado nos meus filhos. Constantemente tenho pensamentos sobre a possibilidade de sofrerem um acidente, de serem raptados, de desaparecerem da minha vida. E isso, meus amigos, isso sim é sofrimento. Pois se sofro tanto só de imaginar que tal poderá suceder, nem imagino a dor que é se o pensamento passar a realidade.
A ideia da inevitabilidade da morte dos que me são queridos assombra-me constantemente, sem interrupções ou alívios. É algo com o qual tenho que conviver constantemente. Mais uma vez o escrevo, não o faço propositadamente. Quem me dera ter a capacidade de afastar estas tristes ideias do meu ser, de arrancar esta escura nuvem de dentro da minha alma. Mas não consigo. Inúmeras são as ocasiões em que tremo ao imaginar que existe uma possibilidade de os meus filhos desaparecerem da minha vida. Já tive pesadels em que eles eram raptados por pessoas de espírito maligno, já pensei em acidentes mortais, sei lá. Já pensei em tanto que, chego à triste conclusão de que algo de muito errado se passa comigo.
Mas também sei de uma coisa boa: tudo isto serve para me lembrar constantemente de que preciso de vocês, de todos os que gostam de mim e, especialmente, dos meus filhos.
Maluco ou não, sem os meus pequenos a vida não faz sentido.