quinta-feira, junho 10, 2010, posted by # 7 at 02:05

Um dia, como qualquer outro dia, levantei-me e abri a janela. O tempo estava bom. Algumas nuvens marcavam a sua presença, mas nada que conseguisse afastar os raios de Sol que se faziam sentir. 

Olhei para dentro, para o interior do meu lar, onde se encontravam as almas que iluminavam e davam significado à minha vida e observei por largos segundos, enquanto dormiam ainda profundamente, inocentemente, sem qualquer restício de maldade. 
Que boa sensação me invadiu naquele momento. Senti que, por breves momentos, todos os problemas e discussões nada significavam, não existiam, não eram sequer colocados como hipótese real.

Os sons suaves do exterior acalmavam-me a alma, mesmo até ao canto mais obscuro e escondido, nas profundezas do meu ser. Sentia-me bem.

Depois surgiste. Como que uma nuvem carregada, inesperada, empurrada por um forte vento que supostamente não deveria existir. Não naquele momento, não aqui, na minha casa. Dominaste-me rapidamente, talvez devido à minha surpresa em te ver. Imobilizaste-me e obrigaste-me a ver. A observar enquanto te divertias morbidamente com as razões de eu estar vivo, enquanto violavas e desrespeitavas a vontade de outros seres-humanos, não olhando a idades ou a nenhum outro atenuante. Massacraste as minhas sementes, os meus bebés. Com contornos de violência desmedida e prazer sanguinário, deste-me a conhecer uma faceta do ser-humano que desconhecia até então.A tua fúria desmedida e sede por caos e terror causaram-me espanto e até medo.

Tantas vezes vejo a lâmina a entrar e sair no corpo dos meus queridos, o som arrepiante da carne a ser dilacerada, destruída. Essa lâmina, com que me tiraste toda e qualquer razão de viver, está gravada em mim, para todo o sempre. Espera. Disse toda e qualquer razão de viver? Perdoa-me. Estou certo de que me perdoarás. Afinal, tenho uma grande razão para viver. Magnânime, soberana, biblíca até. Tu. Sim, tu. Tu és a minha razão de vida. Mas já o deves ter percebido, não é?
Afinal, tanto tempo passou desde o dia em que tudo parecia calmo e sereno, desde o dia em que tudo mudou com a tua entrada em minha casa. Desde o fatídico dia em que resolveste tirar-me tudo o que eu tinha, a vida da minha vida.

Agora, agora estás aqui, novamente perante mim, mas desta vez, com papéis invertidos. És tu quem está imobilizado e eu quem está na posição de poder. Só falta uma coisa; alguém que gostes para que eu te possa dar o mesmo que me deste.Mas tal pessoa não existe, pois só gostas de ti e ninguém gosta de ti. Por isso, vou tirar-te o que mais gostas na vida: tu mesmo.

Começarei por te retirar as pálpebras, para que tudo possas ver, tudo possas sentir. Agora, que já tenho a tua atenção, dedicar-me-ei a pormenores. Talvez a ponta dos teus dedos seja uma boa idéia. Este alicate de corte trespassa-te como se fosses manteiga. Não fossem os teus gritos de dor a perturbar o ambiente, poder-se-ia dizer que estava uma tarde tranquila, tal como a manhã em que me arruinaste a vida.
Sabe tão bem, serrar e cortar estes pequenos pedaços de ti, mostrar-tos logo após os arrancar do teu triste ser. Não pareces nada o homem que foste naquela manhã. Estás menos imponente, menos agressivo, menos autoritário. Só te ouço proferir tristes palavras: "Por favor", "Chega", "Mata-me". Tens que ter calma. Tudo acabará. Não em breve, como gostarias, mas eventualmente, tudo chega ao fim do seu ciclo.

Tanto tempo passei a pensar neste dia, no dia em que te trarei tamanha dor, sofrimento como nunca imaginaste, como não pensaste em momento algum, ser possível de acontecer a alguém como tu, tão mau, tão intimidante. E agora, pedinchas, ora pela vida, ora para que eu termine de vez com ela. Tens que ter calma. Como sabes, a minha sede de vingança é insaciável e, por isso, só me contentarei quando estiver a observar um tronco desmembrado, com espasmos e uma cabeça de olhos bem abertos, espantados pelo trágico fim que a esperava.

Depois, vou arrancar-te os olhos, colocá-los num local de destaque na minha sala, em frente a uma fotografia dos que me tiraste, dos que violentamente privaste de ter uma vida feliz. E aí, eu ficarei feliz. Porque tenho os teus olhos na minha sala e os pedaços do teu corpo na minha arca congeladora.......para todo o sempre.
 
Emanuel Simoes

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