sábado, janeiro 28, 2012, posted by # 7 at 02:19
Existem coisas estranhas, nesta vida. Muitas coisas, muito estranhas. Muitas relacionadas com sentimentos, com formas de estar e de ver a vida.
Chega a ser triste que, por vezes, precisemos de um valente abanão, de um abrir de olhos forçado, para darmos valor às perquenas coisas.
Enfim, não estou certamente a escrever nada de novo, mas é o que me vai passando na alma, nestes dias.

É certo que as nossas vidas não estavam intrínsecamente ligadas, que não convivíamos numa base diária, mas a verdade é que eras parte da minha vida. E gosto de pensar que também eu era parte da tua.
A tua forma de pensar e de estar na vida, sempre me disse algo, sempre foi semelhante ao meu próprio pensamento. A diferença sempre esteve na forma como cada um de nós expunha esses pensamentos.
Apesar da minha imagem de rebelde e irreverente, a verdade é que sempre fui contido na forma como deixo transparecer os meus pensamentos, ao invés que tu sempre foste uma pessoa mais direta e espontânea. 
E isso era a tua imagem de marca, alguém sem medo de dizer o que tinha a dizer, de arriscar. Independentemente dos teus argumentos estarem certos ou não.

Nunca ninguém poderá dizer que foste uma pessoa fraca, apesar do que aconteceu. E se alguém o disser, é porque não te conheceu verdadeiramente.
Sinceramente, também eu penso que não te coneci verdadeiramente. Mas, por outro lado, penso que conheci coisas em ti que outros não conseguiram ver ou perceber.

A vida não foi fácil para ti. As contrariedades foram constantes e marcantes, muito mais do que uma pessoa dita normal está preparada para enfrentar. Ainda assim, continuaste com o teu caminho, demonstrando uma força e uma garra difíceis de encontrar. Eu próprio duvido que tivesse tamanha força para superar tantos obstáculos.

Não existem nem poderão existir dúvidas em relação ao quão forte foste, no decorrer destes anos em que estiveste junto a nós.
A vida é madrasta e para ti não se fez de rogada, nesse aspecto.

A decisão que tomaste, está tomada e consumada e não nos cabe a nós fazermos papel de juiz em relação a tal ocorrência. 
Tu, melhor que ninguém, sabes o motivo que te levou a partires para onde estás agora.

Tenho pensado em ti, diariamente. Acho que ainda não me mentalizei para o facto de que, a realidade, é que não nos veremos mais. E este sentimento é estranho, pois não julguei que me identificasse assim tanto contigo.

Um dia disseste-me que há sempre coisas boas a retirar das más que nos acontecem. Na altura, não foi algo que realmente me marcasse, mas hoje entendo. Entendo que, pelo menos, temos que tentar olhar para além da escuridão que teima em nos rodear.

No meu caso, tenho vários focos de luz que conseguem afastar grande parte dessa escuridão. E que luzes fortes são, meu amigo, que forte que são, deveras.
Também tu tinhas luzes que tentavam árduamente afastar o negrume que se adensava. E eram igualmente luzes poderosas, mas essa incessante escuridão, era e foi forte demais.

Espero, do fundo do meu coração, da minha alma, que tenhas encontrado finalmente o teu lugar. Que estejas bem aí, onde estás e que mantenhas a tua determinação em relação ao que acreditas.
Estarás sempre presente nas nossas vidas, na minha vida.
Os que cá ficaram sentem a tua falta.


 
domingo, janeiro 08, 2012, posted by # 7 at 23:35



Desistir sempre foi algo que me fez confusão. Não relativamente a tudo o que me surge no caminho, claro, mas sim em relação às coisas a que me proponho.

Ou seja, se me surge um desafio, relativo a algo que não me interessa, não me motiva, não me traz a sensação de dever cumprido, nem sequer equaciono a concretização desse mesmo desafio. É uma desistência que não me custa admitir. Agora, quando o tema em questão se reflete em algo que foi previamente concebido por mim como uma meta a atingir, aí sim, a desistência penetra-me a alma e sinto o tormento do afastamento com todos os nervos da minha carcaça.

E até há bem pouco tempo, pensei que essa dor fosse a mais poderosa e intensa que se poderia sentir.
Até ao dia em que resolvi desistir de vez do que me tem vindo a atormentar a vida, desde há alguns anos para cá: a escola.

Tomei a decisão, baseada em particularidades que aqui não mencionarei, e pensei que essa frustração fosse a pior coisa que tinha sentido até então.

Mas não, essa não é a pior dor.

A pior dor, aquela que nos atinge bem nas profundezas do nosso ser, é quando desistimos de algo e alguém nos diz que estamos errados, que temos valor, que deveríamos prosseguir com o nosso caminho, por mais penoso que este possa ser.

Mas não uma pessoa ou pessoas quaisquer, pois normalmente as pessoas dão-nos palmadinhas nas costas, mas sem realmente sentir o que quer que seja por nós. Falo de pessoas que são influentes na nossa vida, pessoas que lidam com o nosso trabalho e sabem atribuir ao mesmo, o valor real do nosso esforço. Pessoas que, no meu caso, tenho em alta consideração e que, no meu momento de despedida, me tentam fazer demover da minha decisão, mas sem pressões ou julgamentos.

Essa sim, é a dor mais intensa que se pode sentir. Desvalorizar o nosso próprio trabalho, quando pessoas bem mais competentes e experientes nos dizem que estamos a seguir um caminho errado.

Mas o pior é que já tomei esse caminho. Já o estou a percorrer e ouvi dizer que não é possível voltar atrás. 
 
terça-feira, janeiro 03, 2012, posted by # 7 at 11:59

De vez em quando dou por mim a observar imagens do passado e a relembrar-me da forma como vivia, como me sentia noutros tempos que já lá vão.
Assim ditas as coisas, parece que sou algum tipo de ancião, um velhote que já viveu imenso. Mas a verdade é que, ao olhar para trás, sinto que esses dias do passado já ocorreram há uma eternidade.

Creio que é usual as pessoas sentirem uma certa nostalgia e sentirem que no passado viveram melhores dias. E se é usual, não será também, em alguns casos, a realidade?

A forma como eu sentia e vivia as coisas, no passado, era bem diferente do que experencio agora. A própria forma de olhar para as pessoas que me rodeiam, era diferente.

É certo que a vida é uma constante mudança e que nos temos que ir adaptando às circunstâncias conforme elas nos vão surgindo no caminho. Mas também é certo que as opções que tomamos influenciam esse modo de estar e de viver. E eu, tomei opções erradas, certamente, como tantas outras pessoas erram.

Mas uma dessas opções, a que mais tem vindo a marcar o meu mal estar perante a vida, curiosamente é algo que me deveria sentir melhor e dar mais forças. E essa opção foi o simples (ou não tão simples) facto de ter voltado a estudar.
Algo que me deveria fazer sentir mais motivado perante a vida, fazer querer saber mais e cada vez mais, afinal está-me a destruir aos poucos. O stress da difícil conciliação entre trabalho, família, treinos e escola, arruina-me o espírito. Nem à noite melhora, já que raro é o dia em que durmo descansado, sem estar a pensar nos problemas da escola, no facto de andar irritado com tudo isto e ter receio de transmitir essa irritação para a minha família. Enfim, vivo neste corropio de sentimentos que me fazem sentir cada vez mais saudades dos tempos em que apenas me preocupava com o ter tempo disponível para passear, estar com quem gosto.

Agora, agora apenas ando aqui, a correr contra o tempo, sem ter tempo algum. Sem verdadeiramente descansar, sem verdadeiramente me divertir, sem verdadeiramente estar com os meus.

Cada vez mais me interrogo sobre o porquê de continuar a sujeitar-me a esta situação, principalmente quando no final deste enorme túnel, não se vislumbra a mínima réstia de luz.
 
Emanuel Simoes

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