É algo quase inexplicável. O conseguir atingir objectivos que há bem pouco tempo não passavam de meros sonhos, ou até mesmo delírios e falsas esperanças, é algo que nos torna grandes neste mundo em que somos tão pequenos.
O título deste post, 42/34, tem uma razão de ser. Refere-se a km sobre anos. Ou seja, 42 km sobre 34 anos. E isso foi o que me aconteceu hoje. Aos 34 anos de idade, pela primeira vez, percorri, de seguida, sem parar, andar ou nada do género, 42 km a correr. Aliás, para ser mais preciso, 42,54km, em 03:34.
Se há alguns anos me dissessem que cumpriria tal feito, seria eu o primeiro a rir e a discordar.
Lembro, ou relembro, que das primeiras vezes que corri, fiz 12 minutos de corrida em que devo ter completado uma distância entre 1500 a 2000 metros(sendo que 2km me parecem um exagero, para a altura). Posteriormente, quando resolvi me dedicar mais a sério, 30 minutos era algo extraordinariamente longo para mim, para se fazer a correr.
Desde então tenho vindo a evoluir, contrariando quem tenta me empurrar para baixo e quem se regozija perante os meus eventuais falhanços.
Curiosamente, todo o negativismo que tentam colocar no meu caminho me dá forças para me superar. E hoje foi a prova disso.
Resolvi tentar cumprir esta distância, já que estou inscrito na Maratona de Portugal, em Dezembro. Mas sem saber bem o que iria acontecer, sem saber bem sequer qual o percurso a seguir. Mas fui. E fui correndo, km após km, como gps a dar-me informações sobre nº de km e média de velocidade e, quando dei por mim, já tinha quebrado a barreira dos 30km.
Nada que não tivesse feito antes, mas 30 não são 42. Nem de longe.
Até aos 37 km, consegui dosear o esforço e fazer uma corrida razoavelmente tranquila. Mas após essa marca, as dores começaram a surgir e o esforço teve de ser mais intenso. Apesar disso, desistir foi algo que nunca me passou pela cabeça. Mais dor ou menos dor, nenhum sofrimento físico seria superior a uma eventual desistência. Isso sim, faria com que sofresse verdadeiramente. Antes quebrar que desistir.
Continuei, sempre com o meu objectivo bem presente e, digo-o sem qualquer preconceito ou receio de que me apontem dedos e se riam de mim, chorei. Chorei enquanto corria, nos km finais, chorei enquanto fazia alongamentos e sentia as pernas a vibrarem de dor. E que dor tão bem vinda.
Cumpri algo sobre o qual antes apenas havia sonhado. Percorri uma distância que, na verdade, nunca pensei ser verdadeiramente capaz de cumprir.
Houve sofrimento, sacrifício, dor, mas, acima de tudo, sentimento de realização pessoal.
Quem corre e gosta de correr, como eu, sabe o que significa este sentimento de concretização, de realização pessoal.
Quem não tem a capacidade de entender, quem critica, quem me chama de maluco e de doente, não é pessoa com quem me interesse ter lidação. Não consegue atingir o sentimento de plenitude em algo tão simples como o correr.
A vida de sofá, TV, PC, telefone, café, tabaco, bebida e dormida, é apenas um pequeno complemento, quase que insignificante, perante o que verdadeiramente me interessa.
Eu sinto-me vivo quando corro, quando sofro, quando os músculos me parecem querer sair do corpo.
Eu sinto-me bem quando quebro barreiras que pensava serem intransponíveis por mim.
Houve um tempo em que eu era fraco como tantos outros. Entregava-me aos confortos da vida, queixava-me por não ser quem gostaria de ser.
Hoje, ouso tentar ser quem quero ser. Hoje, dia 11/11/11 (se é que isso tem algum significado), dei um passo de gigante na minha vida.