
Começa a ser complicado atender aos pedidos que me fazem para dar força às minhas pequenas e fazer crer que tudo vai correr bem.
Começa a ser insuportável ter que conter todos os gritos que se escondem no meu peito, todas as lágrimas que aguardam por correr pela minha cara.
Não vou conseguir aguentar por muito mais tempo este clima mórbido que me rodeia.
A minha mulher sofre, a minha estrelinha pede para ver o mano e eu, eu finjo que isto vai tudo correr bem e que é só uma questão de tempo.
Mas a verdade não é esta. A verdade é que morro de medo que algo corra mal. Quando estou só, choro que nem uma criança por não ter o meu pequeno perto de mim. Ainda não o agarrei ao colo, ainda não lhe acalmei nenhuma birra, ainda não o beijei.
Apenas observo, através das paredes plásticas da incubadora. Olho para uma criança tão carente cheia de tubos e máquinas ligadas ao seu pequeno corpo.
Não vou conseguir suportar isto por muito mais tempo. Preciso do seu calor, do som da sua birra, da sua mão a apertar o meu dedo. Preciso da sua presença na minha casa.
Ao invés disso, tenho que me deslocar ao hospital para o observar durante alguns minutos, no seu sofrimento constante por um lugar neste mundo cruel e escuro.
Em casa eu protegê-lo-ia contra este mundo, assim, apenas posso observar enquanto outros tratam dele.
E enquanto isso, vou escondendo as minhas lágrimas para que os meus não percebam o quanto sofro. Enquanto isso, vou morrendo por dentro, um pouco, todos os dias.