Existem coisas estranhas, nesta vida. Muitas coisas, muito estranhas. Muitas relacionadas com sentimentos, com formas de estar e de ver a vida.
Chega a ser triste que, por vezes, precisemos de um valente abanão, de um abrir de olhos forçado, para darmos valor às perquenas coisas.
Enfim, não estou certamente a escrever nada de novo, mas é o que me vai passando na alma, nestes dias.
É certo que as nossas vidas não estavam intrínsecamente ligadas, que não convivíamos numa base diária, mas a verdade é que eras parte da minha vida. E gosto de pensar que também eu era parte da tua.
A tua forma de pensar e de estar na vida, sempre me disse algo, sempre foi semelhante ao meu próprio pensamento. A diferença sempre esteve na forma como cada um de nós expunha esses pensamentos.
Apesar da minha imagem de rebelde e irreverente, a verdade é que sempre fui contido na forma como deixo transparecer os meus pensamentos, ao invés que tu sempre foste uma pessoa mais direta e espontânea.
E isso era a tua imagem de marca, alguém sem medo de dizer o que tinha a dizer, de arriscar. Independentemente dos teus argumentos estarem certos ou não.
Nunca ninguém poderá dizer que foste uma pessoa fraca, apesar do que aconteceu. E se alguém o disser, é porque não te conheceu verdadeiramente.
Sinceramente, também eu penso que não te coneci verdadeiramente. Mas, por outro lado, penso que conheci coisas em ti que outros não conseguiram ver ou perceber.
A vida não foi fácil para ti. As contrariedades foram constantes e marcantes, muito mais do que uma pessoa dita normal está preparada para enfrentar. Ainda assim, continuaste com o teu caminho, demonstrando uma força e uma garra difíceis de encontrar. Eu próprio duvido que tivesse tamanha força para superar tantos obstáculos.
Não existem nem poderão existir dúvidas em relação ao quão forte foste, no decorrer destes anos em que estiveste junto a nós.
A vida é madrasta e para ti não se fez de rogada, nesse aspecto.
A decisão que tomaste, está tomada e consumada e não nos cabe a nós fazermos papel de juiz em relação a tal ocorrência.
Tu, melhor que ninguém, sabes o motivo que te levou a partires para onde estás agora.
Tenho pensado em ti, diariamente. Acho que ainda não me mentalizei para o facto de que, a realidade, é que não nos veremos mais. E este sentimento é estranho, pois não julguei que me identificasse assim tanto contigo.
Um dia disseste-me que há sempre coisas boas a retirar das más que nos acontecem. Na altura, não foi algo que realmente me marcasse, mas hoje entendo. Entendo que, pelo menos, temos que tentar olhar para além da escuridão que teima em nos rodear.
No meu caso, tenho vários focos de luz que conseguem afastar grande parte dessa escuridão. E que luzes fortes são, meu amigo, que forte que são, deveras.
Também tu tinhas luzes que tentavam árduamente afastar o negrume que se adensava. E eram igualmente luzes poderosas, mas essa incessante escuridão, era e foi forte demais.
Espero, do fundo do meu coração, da minha alma, que tenhas encontrado finalmente o teu lugar. Que estejas bem aí, onde estás e que mantenhas a tua determinação em relação ao que acreditas.
Estarás sempre presente nas nossas vidas, na minha vida.
Os que cá ficaram sentem a tua falta.