A vida é passada com receios estúpidos, ambições ignóbeis e mentalidades distorcidas.
O objectivo é ser-se "alguém" na vida. Ter um curso superior e ter um bom emprego para ter coisas bonitas para mostrar a quem não se importa com isso. Estar no café a falar em como o nosso carro é bom, em como comprámos isto ou aquilo, em como temos tantos e bons bens materiais, passar férias em destinos exóticos.
Já não é importante ser-se bom ou ser-se amigo. Importante mesmo é parecer que somos, mas sempre disfarçando o nosso snobismo. Somos bons porque os outros o dizem, claro.
De nada interessa se temos bons amigos, o que importa é termos muitos "amigos" com estilo, que nos façam sobressair na multidão, que nos digam o quanto somos bons, mesmo que nas costas façam o contrário.
Amor, carinho, simpatia? Bah, de que serve isso se não temos umas Levi's vestidas ou um carro que dá 2oo? Para quê preocupar-se, se não com o facto de termos fotos nossas nas Caraíbas a provar que estamos cheios dele para gastar?
Falar de sentimentos para quê? Isso faz doer a garganta. Vamos criticar antes quem cá não está. Falar mal a torto e a direito dos outros dá tanto prazer, não é?
Mas, como poderemos pensar de outra forma quando educamos os nossos filhos para agirem de tal forma. Ou melhor, não é educar, é mais facilitar.
Em vez de passarmos tempo de qualidade em família, é mais fácil comprar aquele telemóvel ou aquela roupa da moda. É mais fácil dar-lhes o que querem e mandá-los seguir caminho para não atrapalharem as nossas fúteis vidas.
Já ninguém pára para pensar no que realmente somos neste mundo.
Quando passeio pelas ruas, pelos centros comerciais, sinto-me enjoado com tanto nariz empinado, sendo que a grande maioria, no fim do dia, nem sabe o que cá anda a fazer.
Passear os óculos, os relógios, os ténis, tudo isso é fácil. Ter integridade, ser-se verdadeiramente humano, isso sim é difícil. Difícil e cada vez mais raro.
Actualmente o que se vê são corpos sem alma, mortos por dentro.