quinta-feira, maio 22, 2008, posted by # 7 at 23:54

Ultimamente tenho pensado muito sobre a vida que passei e a vida que tenho actualmente e chego naturalmente à conclusão que evoluí bastante.

Nem sempre foi fácil para mim, ou melhor, raramente tive facilidades, ao contrário do que muita gente possa dizer.
Nunca tive aquela infância normal que todos os putos têm e que consiste no simples e inquestionável amor dos pais.

Não vou obviamente relatar toda a minha vida e problemas neste texto. Vou apenas deixar uma breve marca do que foi a minha vida.

Entre pai ausente e mãe abusiva sempre me isolei de tudo e todos e talvez seja por isso que hoje sou como sou. Bruto, tímido, inseguro entre um vasto rol de defeitos que me recuso a enumerar.

Não sei como foi a vida de todos os outros meus colegas de escola e de rua, mas duvido seriamente que todos eles tenham sofrido os abusos físicos que eu sofri e que algum deles tenha passado fome, inclusive no próprio dia de aniversário.

Não sei porque resolvi escrever estas palavras hoje, referentes a assuntos que se passaram há tanto tempo, mas senti uma enorme vontade de o fazer.

Não foi fácil para mim. Entre tareias, castigos e agressões verbais, sempre tentei enquadrar-me o mais possível na dita normalidade do ser humano. É certo que conheci pessoas em situações piores que a minha, mas poucas.....muito poucas.

Por muitas asneiras que possa ter feito, nada justifica o modo como fui tratado, os castigos impingidos. Hoje vejo miúdos que fazem coisas bem piores do que as que fiz, a saírem impunes de tudo, ainda com o apoio dos pais.

Onde estavam os meus pais para me apoiarem quando eu mais precisava? A trabalhar, ocupados com outros assuntos muito mais importantes do que o crescimento dos seus filhos.

Tive o azar de ser orientado por pessoas que se preocupavam mais com a sua vida do que com a minha, e isso reflecte-se na minha personalidade actualmente.

Amo o meu pai, a minha mãe, nem tanto, mas certo certo é que a minha filha não terá o tratamento que eu tive.

Felizmente hoje tenho a minha casa, a minha família, o meu emprego. Não roubei, não bati, não abusei de ninguém.

Tive a força para me converter numa pessoa minimamente responsável e trabalhadora. Agora tudo farei para que a minha filha não passe pelos tormentos que me foram impingidos em criança. Fome, solidão, violência........nesta casa não.
 
2 Comments:


At 24 de maio de 2008 às 20:33, Blogger Srta T

É muito bom quando a gente consegue sublimar as coisas que aconteceram com a gente, transformando essas dores e ausências em coisas boas! Sem ficar se justificando, remoendo e culpando... Parabéns pela tua conquista. Estou certa que a sua família hoje valoriza muito essa sua superação!

 

At 1 de maio de 2009 às 20:31, Anonymous Anónimo

Não é a altura certa...mas um dia voltarei e comentarei....mas que fique relatado que sei bem o que é...e mesmo com todo esse tratamento...vai-te dando por satisfeito e contente não ter sido pior....
Tornaste-te no que és hoje devido à tua força interior....e ainda pedes força para ti??...A força tu tens....tenta geri-la:)

(...)
D.A.

 


Emanuel Simoes

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