sábado, julho 14, 2012, posted by # 7 at 22:54

Afinal, o que importa nesta vida?

Certamente que a maioria dirá que o principal é ter saúde, e algum dinheiro para pagar as contas, claro.
Mas, agora a sério. A realidade, qual é?
Eu digo. A realidade é que todos se interessam pelo dinheiro, pelos bens materiais, pela ostentação, demonstração de posse. Pelo status ocupado na sociedade em que se está inserido, seja ela na classe alta e abastada, quer seja na classe mais pobre. Sim, porque nem os pobres escapam desta doença. Mesmo na pobreza, o pensamento dominante é ter mais e melhor que o vizinho. Seja a casa de lata, a camisola rasgada ou os chinelos de enfiar no dedo. Tem que ser melhor, mais bonito e, de preferência, de marca. Mesmo que seja em 2ª mão e esteja prestes a ir para o lixo.

Em todos os níveis desta triste e apodrecida sociedade, os neurónios da grande maioria da população ocupam-se com pensamentos presos ao materialismo.

Não sou, nem vou ser irónico ao ponto de afirmar que eu não tive nunca pensamentos deste género. Já sonhei com uma casa de fantasia, com um Porsche na garagem, ao lado de uma potente mota. Com aquela piscina gigante, onde os meus filhos nadariam alegres da vida, sem nenhuma preocupação no mundo. E tenho que ser sincero quanto a este ponto: neste preciso momento, adoraria conseguir a independência financeira para não ter que me preocupar jamais com a vida dos meus filhos.

Mas, e a minha vida? Seria eu feliz com carros, motas, casas e afins? A resposta, obviamente, é não.
Há muito que ter um Porsche ou uma grande mota é um pensamento que nada me diz. Embora aprecie o conforto da minha casa, não passo noites a ambicionar mais do que tenho.

A única coisa que gostaria de ter mais, que sonho todas as noites, sem excepção, é liberdade. Liberdade para abandonar a tristeza, cortar amarras com obrigações morais e sociais e partir. Partir pelo desconhecido, onde poucos já foram, enfrentar adversidades naturais, ao invés dos problemas que invariavelmente passam por stuações financeiras.
Estou saturado de estar constantemente a pensar no que se tem a pagar, a receber, a poupar, a comprar, de me sujeitar a quem não tem o mínimo de humanidade na sua alma.

Sempre que olho para aqueles que se atrevem a ser livres e a viver a vida seguindo os seus sonhos, sem olhar nem demasiado para trás, nem demasiado para a frente, lágrimas surgem nos meus olhos. Piegas? Sim, e então? Ah, é verdade. Este é também um mundo de machões, onde homem que é homem não chora.
Pois, mas cada vez mais me convenço de que não deveria fazer parte deste mundo.

Este buraco vai de mal a pior. Corrupção, tráfico de influências, abuso de poder, desdém pelo próximo, falta de sentimentalismo, falta de segurança, e a lista poderia continuar por muitas e muitas mais palavras. E não é assim que quero viver. Mais, não é assim que quero que os meus filhos vivam.

Que se danem os carros, as casas, as roupas, o aspecto, os restaurantes, o capitalismo crescente em que nos encontramos.

O que eu queria mesmo era sair. Sair, correr e não olhar para trás. Parar apenas quando sentisse que o ar era verdadeiramente puro, longe desta triste e decadente sociedade. Andar pelas florestas, com frio, calor, à noite. Andar à deriva, conhecendo novos locais e esquecendo tudo o que vivi e vivo.
Andar pelo mundo até me esquecer de que também eu faço parte desta repugnante raça. Andar até cair, até chegar a minha hora. Morrer a olhar para um céu estrelado, sem pensar no carro, na casa, nas contas, no que é suposto eu ser.

Talvez um dia a coragem que me falta surja do nada.
 
Emanuel Simoes

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