sexta-feira, agosto 22, 2008, posted by # 7 at 21:09

Ontem, dia 21 de Agosto, fui submetido a uma intervenção cirúrgica para me retirarem finalmente as amígdalas, que tantos problemas me deram.
Toda a gente sempre disse que é um procedimento relativamente simples, até porque normalmente se faz ainda em criança.

Porém, nada disso fez diminuir a minha ansiedade e nervosismo.
A princípio da semana comecei a pensar mais seriamente sobre o facto de ir ser sujeito a uma anestesia geral. Dois dias antes da operação, comecei a dormir mal e a ter pesadelos sobre a morte e o deixar a minha estrelinha sozinha com a sua mãe.
Parvoíces, como muitos dirão. O facto é que apercebi-me de que afinal tenho medo de morrer. Mais que o normal, quero dizer.

No dia da operação, tudo o que via, entendia-o como um sinal que algo iria correr mal. Óbvio que apenas prestava atenção às coisas mais negativas.
Dei por mim a olhar para a minha filha, enquanto ela brincava e sorria para mim, e a pensar se não seria aquele o último dia que estaria com ela.
Comecei a reparar mais e mais em tudo o que me rodeava.

Quando já me encontrava no quarto do hospital, por uma abertura entre as cortinas e a parede, havia um espaço que me deixava ver para além da janela.
A primeira coisa que reparei foi que o dia, que até começou solarengo, como seria de esperar nesta altura do ano, subitamente mudou e transformou-se num dia de chuva. Mais uma coisa para aumentar o meu pessimismo.
Lembro-me de ver os pingos da chuva marcados na janela, olhar para os carros a atravessarem a Ponte Vasco da Gama, de ver as gaivotas a planar graciosamente e de um edifício que não consegui descobrir do que era. Ao fundo o barulho dos comboios que passam bem perto do hospital. Nesse momento, o som da televisão era apenas barulho disperso no ar.

O momento aproximava-se e o efeito do calmante que me deram também se fazia notar, pois não me apercebi da velocidade das horas, até que um enfermeiro entrou no quarto a dizer que estava na hora.
Enquanto era empurrado através dos corredores, todas as luzes, portas, macas no caminho, tudo me parecia tão mórbido. Porém, quando me encontrava na sala de transição, deixei de me preocupar e comecei a pensar nos pobres coitados que se submetem a cirurgias tão mais complexas que a minha.
Finalmente mudei da minha cama para o sítio onde ia ser operado, tive uma daquelas conversas da treta com a enfermeira e não me lembro de mais nada a não ser acordar numa outra sala com a minha mulher a meu lado.

A recuperação não está a ser fácil.
Passei lá uma noite, em que não dormi nada devido às dores, A noite passada, já em casa, mais do mesmo. Dores e mais dores.
Estas duas noites de dores, associadas às duas que mal dormi devido ao nervosismo, levam-me a um estado de má disposição pelo qual não gostava de estar a passar.
Mal consigo falar, a comida é uma treta e só me apetece estar isolado.

Tudo isto pelo que passei me fez sentir mais uma vez extremamente só, ainda que tenha todo o apoio que é possível ter. Só, porque a incapacidade de falar, as dores que não consigo explicar e aquele medo que não contei a ninguém, me levaram a um sítio escuro em que nada mais havia senão eu.
 
1 Comments:


At 23 de agosto de 2008 às 22:20, Blogger Srta T

Talvez nosso maior medo seja de fato ser levado a si mesmo... Boa recuperação!

 


Emanuel Simoes

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