Como em muitos dias que por mim já passaram, iguais a tantos outros, hoje fui correr.
Levantei-me às 05:30 da manhã, preparei-me para mais um árduo dia de trabalho e lá fui, cumprir a minha sina. Oito horas de trabalho numa linha de montagem, em que mal existe tempo para se coçar.
Hora de saída, o momento tão aguardado.
Venho para casa, equipo-me e vou correr. Hoje é pouco. Apenas 7400 metros, pois tenho que aproveitar o dia para brincar um pouco com os miúdos.
Num dia normal, esta distância é percorrida num tempo que se situa entre os 30 e os 32 minutos. A um ritmo razoável e com algum esforço.
Hoje, como trabalhei muito na fábrica e ouvi algumas palavras de pessoas que desconfiam dos meus tempos, fiz 28:53, um novo recorde pessoal.
Quando terminei de correr, em plena luz do dia, sem me preocupar com quem estava ou não a observar-me, as lágrimas encheram-me o rosto. De alegria, claro, de sensação de dever cumprido, de saber que consigo calar a boca a muitos dos que não acreditam em mim.
Apesar de ter acordado cedíssimo, de te labutado o dia inteiro na fábrica, onde não existem pausas esporádicas, cafézinhos de ocasião e conversas relaxadas, apesar de todo o cansaço que tenta se apoderar de mim ao fim de um dia de trabalho, consegui mais uma vez quebrar barreiras e superar-me.
Se chorei em público, na rua, onde todos me podiam ver? Sim, chorei. Se me envergonho disso? Nunca, pois chorei pelo meu esforço, pelo meu suor. Se realmente me preocupo que vocês achem que exagero? Nem por isso. Só quem conhece o prazer que se pode tirar da dor que vem em quebrar limites é que pode dizer-me o que quer que seja. Quanto aos outros, sentem-se no sofá, vejam televisão, morram de tédio.