Estava escuro e uma estranha neblina pairava no ar. Era um nevoeiro esquisito, pois apesar da sua presença ser demarcadamente visível e inegável, no ar não existia a humidade que invariavelmente se encontra associada a este fenómeno. O ar estava seco, quase que como não existisse, como que o tempo estivesse parado.
Estava no meio da floresta, estávamos. Rodeados por árvores despidas que nos cercavam, quase que nos tocando com os seus sinistros ramos, num abraço cinzento e áspero.
Andávamos em círculos, tu com olhar vago e triste e eu com a incerteza a encher-me a alma. Afastávamo-nos, aproximávamo-nos, mas nunca nos tocávamos, pois parecia existir uma barreira que nos impedia de o fazer.
O silêncio era sepulcral, sendo apenas audíveis os nossos passos, a terra a ser pisada, os ramos e folhas secas que estalavam sob os nossos pés.
Continuámos com aquela estranha dança, onde incerteza e tristeza se encontravam e eram as verdadeiras estrelas daquele evento improvisado, numa noite escura de nevoeiro.
Rodávamos e rodávamos, mas nunca nos tocávamos. Olhávamos para as árvores, para o chão, para os olhos um do outro, mas nunca nos tocávamos.
O receio era muito, o medo do exterior, do que se fala e diz, do que se pensa e insinua.
As árvores pareciam apertar cada vez mais o cerco sobre nós, empurrando-nos um para o outro, um triste, outro confuso. Mas, ainda assim, ali tão perto, a menos de um passo, não nos tocávamos.
A tristeza e a incerteza continuaram na sua dança fantasmagórica, sem quererem parar para pensar no que as faz serem como são: tristes e incertas.
Rodopiando para todo o sempre, sem que exista resposta aparente.